A cachaça adoçada é uma bebida alcoólica típica do Brasil, produzida a partir da fermentação e destilação do caldo de cana-de-açúcar. No entanto, o que a distingue das demais cachaças é a adição de açúcar durante o processo de produção, conferindo-lhe um sabor mais adocicado.
Batizar destilados com água e açúcar é uma tradição antiga, que remonta ao período das navegações no século XVII, quando os marinheiros britânicos bebiam o grog, uma bebida alcoólica tradicionalmente feita com rum, água quente, açúcar e suco de limão ou lima.
O preparo do grog era uma forma de tornar o rum mais palatável e preservar a água potável a bordo dos navios. O grog era frequentemente servido aos marinheiros em suas rações diárias e se tornou uma parte importante da cultura náutica.
A adição de açúcar na cachaça tem efeito semelhante ao grog ao suavizar o sabor forte da bebida, tornando-a mais agradável ao paladar. No Brasil, a prática de adoçar cachaça ganhou força na década de 1950, quando a bebida começou a ser produzida em grande escala.
Hoje em dia, a cachaça adoçada continua sendo uma escolha para as chamadas cachaças industrializadas, no entanto, alguns produtores de pequena escala também têm suas versões adoçadas.
A legislação da cachaça distingue bem a diferença entre cachaça e cachaça adoçada. É interessante notar que ainda é possível adicionar açúcar ao destilado e ainda chamá-lo de cachaça se a quantidade for inferior a 6g/L. Confira em detalhes:
A produção da cachaça adoçada segue os mesmos passos básicos da produção de qualquer cachaça. Primeiro, a cana-de-açúcar é colhida e moída para extrair o suco, que é fermentado para transformar os açúcares em álcool. Em seguida, o líquido fermentado é destilado, separando o álcool dos demais componentes. No entanto, após a destilação, o açúcar pode ser adicionado em diferentes formas.
O gin de estilo Old Tom é um tipo de gin que remonta ao século XVIII. Ele é conhecido por ter um sabor mais doce e suave em comparação com outros estilos de gin.
O nome Old Tom é frequentemente atribuído a uma lenda envolvendo um gato de madeira montado em uma parede externa de uma destilaria que sinalizava aos clientes onde poderiam comprar gin ilegalmente. Os clientes colocavam uma moeda na boca do gato e recebiam uma dose de gin por um tubo que saía da pata do gato.
O gin de estilo Old Tom é geralmente destilado a partir de grãos e posteriormente macerado com uma mistura de botânicos, incluindo zimbro, coentro, cardamomo e casca de laranja. A principal diferença em relação ao gin seco (London Dry Gin) é a adição de açúcar após a destilação, resultando em um sabor mais adocicado.
A legislação brasileira define as regras para os gins produzidos no país serem classificados como Old Tom:
Assim como o rum nas navegações, o gin era adoçado para mascarar os defeitos de uma destilação mal feita e para tornar a bebida mais palatável aos consumidores.
O estilo Old Tom caiu em desuso durante o século XX, mas ressurgiu com o interesse renovado na coquetelaria clássica e a ascensão da cultura do gin nos últimos anos. Hoje em dia, há várias destilarias artesanais que produzem sua própria versão do gin de estilo Old Tom, mantendo viva essa tradição histórica.
Quando associado à um processo de produção buscando qualidade, a adição de açúcar poderia favorecer uma linha de cachaças adoçadas buscando inovação e diferenciação num mercado cada vez mais saturado e com consumidores buscando opções para novas formas de consumo, como no preparo de diferentes tipos de coquetéis.
A produção da cachaça industrial ocorre em larga escala e pode utilizar cana-de-açúcar própria ou adquirida de outros fornecedores. Na maioria das vezes, a colheita é realizada de maneira mecanizada. Durante o processo de fermentação, são realizados ajustes por meio de produtos químicos, e as leveduras utilizadas são voltadas para alto rendimento alcoólico. A destilação ocorre em colunas de inox. Embora a cachaça pura seja predominante, também existem versões com sabores de madeira.
Muita vezes, açúcar é acrescentado para aprimorar o sabor e tornar a bebida mais agradável ao paladar. Caso a quantidade de açúcar adicionada ultrapasse 6 gramas por litro, a palavra adoçada deve ser incluída no rótulo, como acontece na cachaça Velho Barreiro.
A Santo Grau PX é um exemplo de como podemos ter o açúcar incrementando a experiência sensorial, e não apenas algo para mascarar potenciais defeitos no processo de produção.
A cachaça Santo Grau PX possui um teor alcoólico de 39% e passa por um processo de envelhecimento no sistema de Solera em barris de carvalho americano que anteriormente contiveram vinho Jerez Pedro Ximenez, da Osborn. Durante esse processo, forma-se uma borra seca e cristalizada nas paredes do barril, proveniente do vinho, o que naturalmente adoça a cachaça. Portanto, tecnicamente, essa bebida não é apenas uma cachaça, mas sim uma cachaça adoçada, contendo 9g de açúcar por litro.
A cachaça Santa Terezinha Krafted se destaca por sua simplicidade e inovação na adição de açúcar ao destilado. A criação do produtor Adwalter Menegatti não se trata de uma mistura complexa de diferentes madeiras ou de uma fermentação com leveduras importadas de outros lugares. Todo o sabor inovador da Krafted vem de um ingrediente simples e fundamental para a produção de cachaça: a cana-de-açúcar.
Após a destilação, a cachaça passa por um processo de filtragem utilizando fibras de bagaço fresco. Essa filtragem no bagaço recém-moído confere à cachaça um corpo mais robusto, um leve adocicado e uma coloração amarelada, sem a utilização de madeira. Esse processo inovador resulta em um sabor suave e delicado, equilibrado por uma leve acidez e um teor alcoólico potente. Recomenda-se consumir a cachaça gelada, se tornando cremosa e extremamente refrescante, mas especialmente no preparo de coquetéis cítricos, como uma clássica Caipirinha (a sugestão é reduzir a quantidade de açúcar na receita, já que a base alcoólica já é mais adocicada).
Em resumo, a cachaça adoçada é uma variação da tradicional cachaça, caracterizada pela adição de açúcar durante o processo de produção. A adição de açúcar é geralmente usada pela grande indústria para suavizar o sabor do destilado, produzido geralmente por destilações contínuas em colunas de inox. No entanto, existem destilarias artesanais buscando inovação e diferentes formas de consumo ao trazerem suas versões de cachaças adoçadas para o mercado.
Foto de Mathias Tonnesson na Unsplash
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