Armando Del Bianco já quis ser delegado da polícia federal. Quando criança, tinha uma forma curiosa de passar as férias escolares. Nos passeios à fazenda da família, em Esmeraldas, na região Metropolitana de Belo Horizonte (MG), gostava de investigar como as coisas funcionavam e achar os culpados. O faro analítico estava destinado a outro ramo, da agroindústria canavieira. Hoje, agradece a Deus por ter desistido da ideia de ser policial e justifica: não leva jeito para isso.
Com seis ou sete anos de idade, Armando já percebia que o cheiro do vinho que saía das dornas de fermentação no alambique era um indicativo da qualidade da bebida que seria destilada e questionava: se agride não é bom. Embora, naquela época, as opiniões do mestre de adega ainda não fossem levadas muito a sério. Era só um menino da cidade discutindo com o pessoal nascido e criado na roça.
Na juventude, já defendia com argumentos a produção nacional. “A minha bebida preferida sempre foi a caipirinha. Quando as pessoas me falavam que não gostavam de cachaça eu respondia: você não gosta porque nunca tomou uma cachaça boa”, lembra Armando Del Bianco, um dos mais respeitados master blenders do Brasil.
O belorizontino teria ainda que rodar muitos quilômetros pelas fazendas do interior do estado dando cursos; frequentar aulas em Segonzac, no coração da região de Cognac, na França; e em Edimburgo, na Escócia, terra do uísque; além de passar quatro anos num projeto com chineses treinados pela Diageo, aprendendo e classificando 3,8 mil tonéis de carvalho, para receber o título de master blender e ganhar notoriedade como um dos maiores especialistas do país na arte da blendagem.
A consagração veio na forma de prêmios. Em 2012, no primeiro concurso internacional de que participou, o Concurso Mundial de Bruxelas, foi medalha de prata com uma de suas criações, na cachaça mineira Pendão. Feliz, mas intrigado com o resultado, Armando quis saber o motivo que impediu a ascensão ao ouro. Recebeu a explicação do juiz: a cachaça era boa, mas os barris exauridos passavam pouca virtude. A madeira precisava ser nova.
Mais tarde, já na Gouveia Brasil, aplicou o aprendizado e recebeu carta branca para produzir uma de suas melhores criações, a Gouveia Brasil 44, que assim como seu criador tem muita história para contar. “Logo que eu vim trabalhar aqui, nós fizemos a Gouveia Brasil Extra Premium que ganhou o duplo ouro no Spirits Selection”. A competição é uma das principais do mundo e o Grand Gold um dos mais cobiçados títulos.
“Eu falei com o Roberto Brasil que se quisesse ganhar mais medalhas boas, em Bruxelas, teria que comprar tonéis novos. Depois de três anos nós mandamos a Gouveia Brasil 44 e ganhamos novamente o duplo ouro, como revelação do concurso”.
Desde o final de 2020, Armando deixou o cargo de gestor da Fazenda, em Turvolândia (MG) para se dedicar exclusivamente à produção de bebidas. Nos dias de inspiração é possível encontrar o mestre no laboratório fazendo as misturas, experimentando e catalogando a biblioteca de bebidas com potencial para se transformarem nas próximas séries da destilaria.
Armando compara o trabalho de um mestre de adega ao de um cuidador.
“São pacientes que a gente vai olhando todo dia até liberar para engarrafar”. O tempo varia de acordo com o perfil de cada produto e a virtude de um master blender é ser paciente. O preparo de um lote de Porto Vianna, por exemplo, leva no mínimo 45 dias. De Gouveia Brasil são dois meses. O licor de café dura em torno de 90 dias e o licor tradicional de cachaça pode demorar até um ano. “Tem gente que mistura tudo, bota na garrafa e acha que está pronto. É preciso esperar o tempo certo”.
adverte Armando Del Bianco
O segredo do sucesso, segundo Armando, não está só em ter uma técnica apurada. Ele explica que para uma bebida ser boa, ela precisa ser feita como um cozinheiro prepara o almoço de domingo para a família ou para aquela visita muito aguardada. Precisa ser sempre especial e com muito amor envolvido.
Depois de um ano de desaceleração, sem grandes novidades, Armando fala que 2021 não passará em branco. A próxima criação do master blender a ser lançada pela Gouveia Brasil está a um gole de distância dos melhores bares e restaurantes. Embora não possa dar muitos detalhes, o mestre aguça a curiosidade ao dizer que o produto tem tudo para surpreender mais uma vez o mercado, seja pela alta qualidade ou pela novidade em si. Um sucesso da marca também deve voltar neste ano em nova roupagem. “Vem coisa muito boa, diferente e exclusiva”, diz.
Sobre os projetos pessoais, compartilhou o desejo de criar uma linha exclusiva mantendo como bandeira a valorização da cachaça como bebida nacional genuína. A ideia é reunir uma seleção das melhores cachaças de cada região do Brasil que tiveram em sua concepção um toque da sensibilidade do artista. “Eu tenho clientes em todo o Brasil, e meus clientes são todos meus amigos. Eu gostaria de fazer uma linha Armando Del Bianco Maranhão, Paraíba, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás e assim por diante”. Esperamos que seja breve essa espera para degustar a cachaça dos amigos.
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