O que vem a sua cabeça quando você pensa em cachaça? E cerveja, tequila, uísque e vodca? A cachaça e outras bebidas estão muito presentes no imaginário popular. Essas bebidas alcoólicas trazem símbolos de diversos significados importantes para traçarmos os caminhos para valorização do destilado nacional.
Aqui abaixo, você vê em formato de nuvem de tag os resultados de uma pesquisa que fizemos com 50 homens e mulheres entre 25 e 30 anos buscando entender como é a cachaça e outras bebidas aparecem no imaginário do jovem brasileiro. As palavras que aparecem em maior destaque na nuvem de tags são aquelas que foram as mais faladas quando perguntamos: “O que vem a sua cabeça quando falamos de…”
RUM
Rum, bebida nascida no Caribe por conta da forte presença de plantations de cana-de-açúcar na América do Sul e Central, é fortemente representado pela figura do pirata, imagem também reforçada em filmes e até nos rótulos de algumas marcas.
A marca Coca-cola, por conta do coquetel cuba libre, e o drink mojito e seus ingredientes (hortelã) são palavras fortemente ligadas ao rum. A bebida conseguiu se associar e se popularizar com essas duas receitas de coquetéis que já se tornaram clássicos.
CERVEJA
De acordo com nosso grupo de pesquisa, a cerveja está associada principalmente às palavras churrasco, amigos e cenários de refrescância (praia, calor, sol) . É sem dúvida a bebida alcoólica mais popular justamente por estar muito presente em comemorações, festas, encontros de amigos. É mais do que uma bebida, a cerveja é uma sensação de uma tarde de verão quente para o brasileiro.
VINHO
Jantar, namoro e frio são associadas ao vinho. A bebida traz as coisas boas da vida adulta (jantares especiais, encontros amoroso, relacionamentos maduros e duradouros). Se a cerveja está relacionada às confraternizações de grupo, o vinho é mais introspectivo e a bebida perfeita para acompanhar um encontro romântico.
VODKA
Balada, energético e a marca Absolut estão entre as palavras mais citadas pelos participantes da pesquisa para associar à vodka. Um destaque negativo foi ver a caipirinha entre as palavras mais relacionadas ao destilado russo, quando na verdade o nome correto para o drink deveria ser caipiroska – na prática, percebemos que a nossa caipirinha, coquetel nacional feito exclusivamente com cachaça, está cada vez mais sendo relacionado à outras bebidas como saquê, rum e vodka.
WHISKY
Gelo, pai e formatura aparecem fortes para whisky, do qual a galera também não esquece da marca mais conhecida, Johnnie Walker. É uma bebida mais introspectiva, mais conversadora, não tem o mesmo sexy appeal do vinho, mas tem uma carga de glamour trazida pelo amadurecimento do jovem, principalmente do sexo masculino. Ela está presente no ritual de passagem do jovem que se torna adulto. Do bebedor de refrigerante e cerveja para o degustador de whisky cowboy com charutos.
TEQUILA
Os mexicanos tiveram muito sucesso em incorporar o tequila como parte da sua cultura do México e clima festivo de seu povo. É uma bebida rapidamente relacionada ao país e seus costumes, como o uso do chapéu sombrero e o consumo de abacate (guacamole). Eles também conseguiram popularizar o destilado com a experiência do shot seguido de sal e limão, duas das palavras mais lembradas. Por conta do shot também aparecem palavras negativas como amnésia
CACHAÇA
E a cachaça? Sim, ela também entrou na brincadeira – e o forte foi caipirinha (claro!), Minas Gerais, estado com maior número de unidade de produção de cachaça, e Brasil, afinal a cachaça é exclusivamente brasileira. Embora as outras bebidas também tenham apresentado palavras como “porre”, “amnésia”, “enjôo” e “ressaca”, a cachaça contou com maior destaque para palavras como “pinguço” e “cachaceiro“, usadas geralmente com significado pejorativo.
Como o imaginário popular vê a cachaça e outras bebidas?
Agora vamos para os aprendizados que a pesquisa nos traz. Quando a gente compara os resultados das outras bebidas com aquilo que foi registrado em relação à cachaça, nós percebemos que todas as outras estão associadas a um momento de consumo (festa, balada, churrasco, jantar), mas a cachaça, ainda não.
Aparecem também alguns acompanhamentos (coca-cola, gelo, energético, jantar, comida), e a cachaça fica apenas com seu drink principal, a caipirinha. E, dentre as mais de 4 mil marcas que existem, e muitas das quais a gente mapeou no Guia Mapa da Cachaça, ninguém lembrou de uma delas – nem mesmo das marcas mais famosas que patrocinam jogos de futebol.
Isso podia ser desanimador, mas infelizmente não é nada que ninguém esperasse. O que temos é um belo trabalho pela frente, trabalho de comunicação, aprendizado e valorização, para fazer as pessoas enxergarem várias pontos positivos que cachaça tem.
Falta colocar no imaginário popular um monte de palavras: tem as madeiras (amburana, ipê, jequitibá, bálsamo), as frutas para os coquetéis (limão, jabuticaba, morango, caju), o frescor de uma gostosa e bem preparada caipirinha, as outras regiões produtoras (Paraty, Brejo Paraibano, Estrada Real, Salinas, Serra Gaucha), a comida que a acompanha muito bem uma talagada (caldinho de feijão, carne de sol, torresmo, cartola)…
Quais as palavras que poderiam entrar no imaginário popular para falarmos de cachaça?
Na minha opinião, essas deveriam ser as palavras chaves relacionadas à cachaça:
O momento de consumo da cachaça
Para completar, seria interessante também um atrelar a cachaça a um “cenário de consumo” especial. Assim como a balada é território da vodka, o churrasco da cerveja e o jantar, do vinho, qual será a o momento de consumo ideal da cachaça?
O que venho discutindo com algumas pessoa que também estão pensando nisto é que a “balada” não deve ser talvez, o principal território da nossa bebida. A caipirinha (de cachaça, claro), o rabo de galo e algumas outras bebidas feitas com cachaça (aquelas com mel e limão ou outras especiarias), têm grande potencial de promoção da aguardente em muitos bares e restaurante pelo Brasil – precisamos valorizar mais os coquetéis com cachaça.
A cachaça pode também trazer mais sabor de Brasil para os brasileiros ao ser servida com pratos regionais, ao ser utilizada como ingrediente na cozinha e, claro, ser tomada como aperitivo antes e durante as refeições mais especiais – precisamos valorizar mais a cachaça na gastronomia.
É muito bacana fazer aquele consumidor de outras bebidas alcóolicas como o vinho e o whisky perceber a variedade de sabores existentes na cachaça. E, para aquela pessoa que gosta de sair para um barzinho mas não encher a cara de cerveja, temos a oportunidade de mostrar para ela a riqueza de sabores das madeiras das cachaças, ou mesmo a caipirinha feita com bons exemplares da bebida. E para quem gosta de comer bem porque não fazer em casa um picadinho de carne com cachaça? A cachaça já faz parte da cultura e do dia-a-dia do brasileiro, precisamos é reconhecer e valorizar nossas tradições – ter orgulho de ser quem somos e não ficar apenas consumindo e exaltando o que vem de fora.
Natália Matos
outubro 26, 2011 at 4:59 pmCachaça é Ypióca!!!
Elisa Teixeira
outubro 26, 2011 at 6:28 pmParabéns pelo artigo! Eu trabalho com um tipo de pesquisa lingüística chamada Lingüística de Corpus – observamos justamente a freqüência e o contexto associados a certas palavras ou expressões da língua. Achei que a representação com tag cloud (nem sabia que esse era o nome) ficou bem legal! Vou sugerir para o pessoal do grupo de estudos de que faço parte (aliás – fala com o Felipe se quiser ampliar sua pesquisa usando textos relacionados à culinária. Esse nosso grupo está coletando textos assim para um projeto lá na USP!).
Aproveitando o ensejo, capirinha pra mim lembra amigos, festa, barzinho, petiscos, torresmo, camarão, limão, praia, gelo, música e, acima de tudo, felicidade! E ressaca… de vez em quando. Quanto à marca, 51 é a primeira que vem à mente, mas Ypioca e Pitu também comparecem. :o)
Um abraço
Renato Figueiredo
outubro 27, 2011 at 8:29 amOlá, Elisa, obrigado pelo comentário! A ideia de pesquisar essas associações em textos de culinária é muito interessante também. Vamos pensar nela. O Felipe tem muita vontade de ampliar essa pesquisa um dia. Boa sorte com a sua! Gostei das suas associações também ; ) Abraços!
Dayana
outubro 27, 2011 at 9:42 amVai ai uma dica para uma ótima cachaca.. TERRA DOURADA..
:p
Uma delicia!!
Janaisa
outubro 27, 2011 at 2:21 pmA cachaça na minha lembrança:
Hoje seria um dia de festa. Talvez bolas coloridas espalhadas pela casa, línguas de sogra, um bolo colorido. Talvez uma viagem a São Paulo. Ou a Salvador. Mas é possível que tivéssemos ido a Votuporanga. A comida seria leve, as sobremesas seriam dietéticas, mas teriam gosto – diferentemente do que acontecia há 15 anos atrás. Papai era diabético. Minha mãe colocaria seu delicado colar de corações, minha irmã teria comprado um presente. Nós nos sentaríamos em volta da mesa, tomaríamos um vinho, compartilharíamos nossas vidas. Meu pai traria um copinho de sua cachaça preferida, que ele degustaria sem pressa. Lembraríamos os tempos passados, celebraríamos o futuro vindouro. Talvez ele tivesse algumas pontes de safena. Talvez tivesse um novo rim. Talvez.
Hoje meu pai faria 70 anos.
Gabriela Barreto
novembro 16, 2011 at 5:53 pmLindo o texto, Jana!
Me emocionei!
beijos
Antoni Cardoso
outubro 31, 2011 at 10:58 pmYpióca não é cachaça é Aguá Ardente, sinto lhe informar.
messias s. cavalcante
novembro 2, 2011 at 10:04 amQue coisa mais bonita Janaisa! Uma excelente poesia camuflada em prosa!
Elisa, eu não tinha idéia de que existiam coisas como Linguistica de Corpus ou Tag Cloud, mas se perguntarem as associações de cachaça com o dia a dia dos sul mineiros ( olha aí eu também criando termos novos!) ouviriam … nada! A cachaça está tão associada com a existência, assim como o ar e a água, dos privilegiados que zanzam por este tiquinho do paraíso que ninguém dá conta de sua importância!
Quanto à Ypióca ser água ardente, segundo o Antoni, recomendo a degustação de uma 160 bem gelada ou uma Rio ao natural. Verás que há mais sensações organolépticas entre o céu e a terra do que nossa vã filosofia possa alcançar.
Renato Figueiredo
novembro 3, 2011 at 3:57 pmMessias e Janaisa, muito obrigado pelas contribuições poético-literárias para a coluna! Interessante o que conta dos “sul mineiros”, Messias!
Um abraço a todos,
Renato.
Lais
março 17, 2012 at 7:21 pmOlá, adorei a pesquisa, sou estudante de Design de Produto em Florianópolis e este semestre estamos desenvolvendo um projeto voltado à valorização da cachaça local, provavelmente seremos influenciados pelo seu método bastante visual e comunicativo.
Sucesso!!!!
Barretão
abril 24, 2012 at 1:08 amVelho Barreiro parece me uma boa pedida tem um haroma de cana envelhecida e um leve sabor quase que caramelado no final!
Barretão
abril 24, 2012 at 1:09 amPitú é cachaça ou água Ardente?
Mapa da Cachaça
abril 24, 2012 at 12:39 pmCaro Barretão. A Pitú é cachaça, mas pode ser chamada de aguardente também. Toda cachaça é aguardente, mas nem toda aguardente é cachaça. Nós explicamos melhor nesse texto: http://mapadacachaca.com.br/blog/afinal-o-que-e-cachaca/
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