Em 2010, quando a Encantos da Marquesa montou a fábrica em uma propriedade com tradição na produção de cachaça mineira, os sócios Eduardo Martins, Edson Martins e José Roberto Corrêa adquiriram uma dorna de bálsamo de 30 mil litros. A madeira grossa bem típica da região foi preenchida com a melhor cachaça branca e mantida em longo descanso na adega da Fazenda Marquesa, em Taiobeira, cidade limítrofe de Salinas, em Minas Gerais.
Dez anos depois, os produtores foram desafiados a apresentar resultados que trouxessem profundidade e equilíbrio capazes de surpreender até os paladares mais desconfiados com o bálsamo. Uma tarefa nada fácil com essa madeira potente, de aromas que se impõem e impregnam. As notas picantes e temperadas por sabores herbáceos e terrosos costumam gerar sensações extremas de amor e repulsa. Nada mais instigante para uma mente curiosa e inventiva, como a de Eduardo Martins.
O bálsamo é considerado uma das madeiras mais difíceis de se dominar, ao lado da amburana. Ambas estão intimamente ligadas às particularidades produtivas que definem uma tradição regional muito difundida no copo, mas não tão conhecida nas origens. Assim, a cachaça Encantos da Marquesa Bálsamo nº1 foi criada. Uma bebida que homenageia a história e a cultura das cachaças do Norte de Minas Gerais.
Existem pelo menos dois gêneros de bálsamo e quatro espécies diferentes de árvores que ocorrem no Brasil e sofrem, como muitas outras, com a ameaça e o perigo da extinção. A intensidade aromática e extrativa dos diversos bálsamos fazem os produtores mais afoitos e menos atentos perderem a mão facilmente.
Dominar esse processo passa por compreender o valor, a complexidade e as diferenças dessas madeiras e respeitar um tempo que não é dos homens, mas da natureza. Sensibilidade que desponta em Martins, um ávido defensor da flora brasileira. Além de produtor rural sustentável, ele busca mecanismos de incentivo ao plantio de árvores dedicadas à tanoaria.
O bálsamo é uma das madeiras mais ricas para o amadurecimento da cachaça, segundo o produtor. A quantidade de compostos e congêneres que surgem da interação com a bebida é abundante. A intensidade sensorial das especiarias e a potência tânica do bálsamo é influenciada, principalmente, por um elemento chamado eugenol. Um antioxidante natural da planta, referência de perfumistas e muito associado a cheiro herbal de limpeza.
Para ver nascer a primeira Encantos da Marquesa Bálsamo foi preciso muita paciência e persistência. Dos truques conhecidos para amansar o bálsamo, a Encantos da Marquesa optou pelo padrão de estilo regional do sertão mineiro. Um longo e lento período de polimento dos taninos e do conjunto de extrativos que dão intensidade sensorial à cachaça por meio da micro-oxigenação natural.
Nessa espera, o álcool também age nas paredes de madeira transformando o tecido vegetal em derivados vanílicos que vão adoçar naturalmente a cachaça. A dorna de 30 mil litros foi mantida com 66% do volume total para acelerar as trocas gasosas. A reposição da cota dos anjos – líquido evaporado – foi feita com cachaça branca de maior dulçor da casa. Não obstante, uma análise mais criteriosa pode revelar outras nuances.
“Essa cachaça valoriza as comidas brasileiras, principalmente as mais condimentadas: Os preparados de pescado em geral e ensopados, por exemplo. A cachaça de bálsamo com pimenta dedo-de-moça fica incrível e com charuto vai casar muito bem também”.
Eduardo Martins
Não é à toa que a tradição de armazenar cachaça em bálsamo seja uma arte aplicada com excelência por poucos. Um dos mais reconhecidos pelo cuidado e talento é, sem dúvidas, Anísio Santiago, referência soberana da escola de Salinas. A técnica de trabalhar com grandes volumes em grandes dornas foi importada e aprimorada de outro município histórico para a produção de cachaça do Norte de Minas Gerais: a cidade de Januária, que se destacou pelo uso da madeira de amburana.
O método de armazenamento surgido do conhecimento empírico e desenvolvido em pequenas famílias produtoras é a história que a Encantos da Marquesa Bálsamo busca recuperar e difundir. Da cachaça cor verde-oliva que deu fama e reconhecimento à região do Vale do Jequitinhonha, surge uma Marquesa carregada de simbologias. A transparência do rótulo, a fertilidade da terra identificada pela figura feminina com a flor de bálsamo a enfeitar os cabelos. Arte com a assinatura do designer André Gonzales.
O lançamento da primeira versão bálsamo da destilaria de Taiobeiras é também um marco no desenvolvimento de novas formas de armazenamento e envelhecimento com essa madeira. Em parceria com a Dornas Havana, a Encantos da Marquesa Bálsamo tem testado e adequado barris de tamanhos menores com madeiras estaleiradas de longo prazo e tosta intensa. Num futuro não muito distante, a ideia é fazer blends de bálsamo a partir de misturas das novas e consagradas técnicas.
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