Em meados dos anos 1950, a empresa italiana Cinzano se estabeleceu numa efervescente São Paulo, cidade que então ganhava a alcunha de locomotiva do Brasil, não apenas pelo aumento de indústrias e empregos, mas também por ser um centro cultural e de inovação.
De olho nesse mercado, a Cinzano percebeu que nos bares e balcões se bebia muita cachaça, mas sem misturar com outras bebidas. Seguindo as tendências europeias de combinar destilados com vinhos e bitters, a empresa italiana criou seu próprio cocktail, assim em inglês mesmo, ou em bom português literalmente “rabo de galo”, incentivando a mistura de cachaça com o vermute da marca. No Brasil, encontramos diversas versões de rabo de galo, conhecido também como traçado, algumas levando Underberg, licores, vinhos doces ou amargos e até mesmo Fernet.
A receita do Rabo de Galo tem tudo para ser uma das grandes representantes da coquetelaria nacional ao lado da Caipirinha. A Caipirinha, no entanto, não é algo tão simples de preparar como as pessoas pensam. O limão taiti é bastante acessível no Brasil e em países tropicais, mas encontrar um mero limãozinho taiti no Hemisfério Norte pode ser tarefa difícil e cara.
O Rabo de Galo sempre foi marginalizado, era coisa de pé-sujo. Então, por meio de um movimento de orgulho e valorização das nossas tradições, os bartenders começaram a conquistar mais autonomia para afinar as cartas de drinques. Eles começaram a colocar ideias mais autorais na pauta do dia. Agora, que o Rabo de Galo já está em várias cartas, o cliente já olha pro coquetel de cachaça e vermute e começa a entender o que seria uma coquetelaria brasileira. O bartender começou a reproduzir a receita utilizando mais técnica, como servir na temperatura correta com gelo cristal e outras guarnições que enaltecem a bebida.
Um dos responsáveis por esse movimento foi o bartender Derivan de Souza.
Derivan de Souza, também conhecido como Mestre Derivan, é um bartender brasileiro reconhecido internacionalmente por seu trabalho e contribuição para a coquetelaria. Ele foi fundamental para o reconhecimento e popularização do coquetel Rabo de Galo pela International Bartender Association (IBA).
Em 2023, a renomada Associação Internacional dos Bartenders (IBA) decidiu adicionar o rabo de galo à sua lista oficial de coquetéis clássicos, juntando-se às famosas bebidas da coquetelaria mundial. Assim, o rabo de galo alcança o status de segundo coquetel brasileiro reconhecido, após a caipirinha que obteve esse reconhecimento em 1997.
Com o intuito de promover a visibilidade do Rabo de Galo e destacar sua importância histórica e cultural, Mestre Derivan de Souza apresentou o coquetel à International Bartender Association. Através de sua influência, habilidade e incansáveis eventos pelo Brasil e Europa promovendo o cocktail, ele e toda uma geração de bartenders brasileiros conseguiu que o Rabo de Galo fosse oficialmente reconhecido pela IBA como um drink clássico e incluído em sua lista de coquetéis oficiais.
Fazer Caipirinha não é algo tão simples como as pessoas pensam. O limão taiti é bastante acessível no Brasil e em países tropicais, mas encontrar um mero limãozinho no Hemisfério Norte pode ser tarefa difícil e cara. E quando a fruta está disponível, para azedar a bebida basta macerar demais a casca. Causar uma ressaca dos infernos então, nem precisa de muito, apenas a cachaça errada e muito açúcar para disfarçar. Em compensação, o Rabo de Galo tem um potencial de replicação muito maior. Partindo de uma receita com ingredientes mais acessíveis, as variáveis que conduzem ao erro são muito menores.
Sem dúvida a Caipirinha é uma receita histórica, saborosa e muito importante para a difusão do destilado nacional, mas o Rabo de Galo além de ter uma receita relativamente simples tem seus ingredientes disponíveis em qualquer lugar do mundo – gelo, bitter, uma boa cachaça e um bom vermute são ingredientes que podem ser encontrados nas principais capitais mundiais. Está aí um belo reforço para promover a cachaça em todos os cantos do mundo!
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