Julho de 2015 já entrou para a história do Mapa da Cachaça: participamos do maior evento de coquetéis e destilados do mundo e um dos mais prestigiados eventos educacionais do setor: o Tales of the Cocktail. Felipe Jannuzzi, criador do Mapa e especialista na caninha, se uniu a Tony Harion e Jean Ponce, dois dos maiores especialistas em coquetelaria no Brasil, e juntos apresentaram o seminário “Uma viagem pelo Brasil em 40.000 alambiques”, uma aula sobre o universo cachaceiro e os aspectos culturais e sensoriais da bebida. Realizado em Nova Orleans (EUA), o evento reuniu durante 5 dias grandes nomes do setor. Felipe nos contou, cheio de entusiasmo, um pouco sobre como foi participar de um evento desta magnitude.
Felipe Jannuzzi: Estar em Nova Orleans foi uma experiência incrível. É uma quantidade enorme de gente aproveitando a música, a comida, o clima do lugar e os coquetéis, claro. A cidade vive disso. Nova Orleans é linda. Mas [O furacão] Katrina contribuiu para deixá-la empobrecida, mas mesmo assim é linda. Durante o Tales mais de 20 mil pessoas lotam as ruas da cidade, os hotéis, restaurantes, os bares e casas de strip. A Bourbon Street é tipo uma R. Augusta, só que com mais luz, mais música, mais gente, mais cheiro de mijo misturado com cerveja e 24 horas acesa – é eletrizante na mesma potência que é “dirty“, mas sem perder seu charme. Nas ruas vemos pessoas que vão pra farrear, como num carnaval, misturados com famílias de turistas interessados na cultura, música e gastronomia local.
Um dos meus lugares favoritos foi visitar a Frenchmen Street, onde a música é excelente. Você passa a noite pulando de bar em bar ouvindo um artista melhor que o outro. Mas em todo French Quarter os músicos aparecem e é um guitar hero por esquina, um Louis Armstrong pra cada 5 turistas prontos pra sacar uma foto.
Além do jazz e blues, descobrimos o bounce, uma mistura de rap, funk, eletrônico e uma dança que poderia muito bem ter sido criada no Rio de Janeiro.
A comida parece com a brasileira, mas o sabor é completamente diferente. É a cozinha Cajun, uma mistura de feijão, arroz, carne de porco, frutos do mar e pimentas. Comi pratos como os Po-boys, gumbo, jambalaya… meu tipo de comida!
F.J.: A organização foi incrível, tanto em relação a nós, como palestrantes, quanto para quem estava passeando por lá. E cada uma das palestras ou interações tornava tudo ainda melhor. Mesmo com o patrocínio e a presença de marcas, o principal foco do Tales é o educacional e não promocional. Em todas as apresentações, a história, importância cultural e experiências sensoriais eram o assunto e o motivo principal de tudo aquilo estar acontecendo. Conhecemos também pessoas de todos os cantos do mundo, especialistas nas mais diversas áreas e bebidas, de bartenders popstars a pesquisadores extremamente respeitados, como David Wondrich, jornalista e grande especialista em coquetéis americanos.
A variedade de bebidas e assuntos discutidos e estudados é enorme. Eu, por exemplo, participei de uma palestra sobre o agave, matéria-prima para o mezcal e a tequila. E teve até um “ringue de combate sensorial” entre uísques, o MMA: Multiple Malt Ambassadors Face Off, no qual 4 participantes defendiam um uísque feito com um certo tipo de malte sem citar marca ou idade, apenas as impressões de sentido eram válidas. No final, um dos caras sacou uma gaita de fole e começou tocar – o som reverberava pelos corredores do hotel Monteleone, onde foram realizadas as maiores das palestras.
F.J.: Com certeza o intuito educacional do evento. Lá eu conheci muitas pessoas, de especialistas a profissionais e até mesmo representantes das marcas e produtores, interessados em educar as pessoas, não simplesmente em incentivar o consumo. O Tales é um verdadeiro oásis do conhecimento para quem pensa em estudar bebidas. O nível dos participantes, fossem profissionais da área, pesquisadores, produtores, é muito alto.
Acredito que aqui podemos seguir esse caminho também. Acredito em dar informação para que os consumidores possam avaliar a qualidade da bebida e se tornarem mais críticos. As marcas boas, aqueles que fazem uma cachaça de qualidade e personalidade, irão se beneficiar. Temos um evento com essa proposta aqui chamado Mentes Brilhantes, que acontece todos os anos em São Paulo.
F.J.: O nosso seminário foi um dos últimos do evento, em plena manhã de sábado, logo após a festa que, teoricamente, encerrava o evento. Mesmo assim, o público compareceu em peso e a sala estava lotada. Foram 60 pessoas, de entusiastas a bartenders, produtores de cachaça e especialistas.
Quanto ao seminário em si, nosso objetivo, além de falar sobre o que é a cachaça e falar sobre a bebida em suas mais diversas relações com aspectos culturais do Brasil.
A gente tentou passar a experiência de sentar no boteco, ouvir um samba em companhia de uma dose da caninha. Até o barulho da cana sendo moída e do cheiro da garapa fresca – sim, nós levamos um moedor de cana e extraímos a garapa ao vivo, que foi servida junto com pasteizinhos de vento direto do Brasil. A ideia era levar também a experiência da feira, tão comum pra gente.
Levamos madeiras usadas para envelhecimento para o pessoal tocar, cheirar e comparar ao aroma das cachaças; abrimos o seminário com um “Fecha Corpo”, uma infusão que criamos com ervas brasileiras e ervas locais; e finalizamos presenteando todos os participantes com uma publicação fresquinha do Mapa da Cachaça, o Diário da Cachaça, um livro com informações sobre cachaça e uma ferramenta de análise sensorial.
Levamos o máximo de cachaças que conseguimos colocar nas malas. Corríamos o risco de sermos barradas na alfândega. Os amigos brasileiros que foram ao evento nos ajudaram trazendo algumas garrafas nas malas. Trouxemos cachaças de alambique que representassem sua regiões de produção ou estilos distintos, como envelhecer em madeiras diferentes ou usar leveduras selvagens ou selecionadas para a fermentação. As cachaças foram: Sapucaia Real, Perfeição, Século XVIII, Sanhaçu, Weber Haus Extra-Premium, Weber Haus 12 anos, Maria Izabel Jequitibá, Leblon Seleção Verde, Leblon Reserva Especial, Havaninha, Anísio Santiago, Dom Bré, Mato Dentro Amendoim. Além disso servimos dois coquetéis, o Amazônia com maracujá e spray de priprioca e o Cachaça Caramelizada – duas receitas do Jean Ponce. Fizemos também um infusão com ervas locais e brasileiras, além de servir uma dose de garapa extraída na hora.
F.J.: Colocamos a cachaça de alambique em outro patamar com a participação no Tales of the Cocktail. Espero ter contribuído para abrir novas portas para o Brasil e os seus mais de 4 mil produtores de cachaça. Se tudo der certo, espero ter contribuído também para que nos próximos anos mais palestrantes brasileiros possam participar de eventos como este. Será uma forma de difundirmos cada vez mais as coisas boas que temos por aqui. Agora, queremos fazer isso mais vezes e em outros lugares do mundo!
Uma seleção dos melhores artigos do Mapa da Cachaça em diferentes tópicos
Não há resultados correspondentes à sua busca.
ReporO melhor da cachaça no seu e-mail