Sapucaia, tradição em cachaça no Vale do Paraíba e Pirassununga

  • Publicado 6 meses atrás

Originalmente do Vale do Paraíba, mas desde 2008 localizada em Pirassununga, a cachaça Sapucaia se destaca como uma das principais marcas de São Paulo investindo em exportação, turismo e numa história duradoura

Na região leste do estado de São Paulo, com aproximadamente cento e sessenta mil habitantes, está Pindamonhangaba. A cidade, uma das mais importantes do Vale do Paraíba, foi onde surgiu a cachaça Sapucaia. Foi lá que Dr. Cícero da Silva Prado (1888-1969) decidiu introduzir culturas diversas. A cana de açúcar foi uma delas. Do cultivo, nasceu a ideia da bebida.

Doutor, fazendeiro de arroz às margens do rio Paraíba e também sócio do Conde Mattarazzo, Dr. Cicero ajudo a transformar Pindamonhangaba em ‘capital agrícola do Vale do Paraíba’. Ele foi também responsável pelo surgimento da maior fábrica de papel da América do Sul. Em 1965, por indicação da Sociedade Brasileira de Agronomia, recebeu da Confederação Rural Brasileira o Mérito Agrícola.

Em 1933, aproveitando a prosperidade de seus empreendimentos e inspirado pelo belo pé de sapucaia que crescia em sua fazenda, Cicero Prado investe na criação da sua cachaça de alambique.

Prado Cicero da Silva
Dr. Cícero da Silva Prado (1888-1969) proprietário das fazendas Sapucaia e Coruputuba, no município de Pindamonhangaba, e criador da marca da cachaça Sapucaia.

A cultura da cachaça no cinema

No ano de 1959, ocorreu a gravação do filme Jeca Tatu nas propriedades da Fazenda Sapucaia e Coruputuba, local de produção da cachaça Sapucaia. No início do filme, o ator Mazzaroppi expressa sua gratidão ao Dr. Cicero Prado por ceder as terras para as filmagens e menciona a Fazenda Sapucaia como o local das gravações. É muito interessante observar no filme as cenas que retratam o processo tradicional de cortar a cana-de-açúcar para a produção da cachaça.

De Pinda para Pira

Com a morte do Dr. Cícero da Silva Prado em 1969 e a falência de alguns de seus empreendimentos, como a indústria de celulose que foi extinta em 2013 sob a denominação Nobrecel S/A Celulose e Papel, a cachaça Sapucaia se manteve como tradição local, mas já sem os cuidados necessários que antigamente tinha sob o comando do seu fundador.

Em 2008, como forma de manter a história iniciada em 1933, a marca Sapucaia foi adquirida pelo empresário Alexandre Bertin. 

Mudança de barris do vale do paraiba para pirassununga
Na mudança de Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba, para Pirassununga, foram transportados os barris e dornas para a atual sede.

“A visão empreendedora de Cícero era interessante, porque está alinhada com que a gente fala hoje sobre a cachaça: ser um produto nobre e de exportação”,

conta Alexandre Bertin

Nas mãos de Bertin, a Sapucaia mudou. A matriz em Pindamonhangaba transformou-se em uma espécie de marco histórico, importante pelo vínculo com o Vale do Paraíba  – e, desde 2015, a produção passa a ser feita em Pirassununga, 200 km de São Paulo, numa propriedade próxima das terras onde familiares do atual produtor destilam cachaça há mais de 100 anos.

Cachaça Sapucaia: fortalecer uma tradição local

Além de acreditar no negócio ao adquirir uma marca de renome em São Paulo, parte da motivação de Bertin está em manter a tradição da produção da cachaça artesanal em Pirassununga.

A cidade virou sinônimo de cachaça através das empresas engarrafadoras que conseguiram canalizar a produção dos alambiques de pequenos produtores e levá-la rotuladas ao mercado. Mas com o tempo, essas grandes engarrafadoras passaram a produzir cachaças de forma industrial.

Alexandre Bertin, da cachaça Sapucaia
Alexandre Bertin, produtor da cachaça Sapucaia

A história da cachaça local, com forte contribuição dos familiares de Bertin e outras famílias ítalo-brasileiras, esta sendo gradativamente perdida na cidade porque as industrias da região trouxeram a escala, mas diminuíam a diversidade de produtores locais.

Junto com outras marcas, Pirassununga ganhou um colaborador de peso para o movimento da cachaça de alambique com a chegada da Sapucaia.

Identidade na tradição do amendoim

Alexandre Bertin está restaurando os antigos barris de amendoim vindos ainda da época do Dr. Cícero Prado – que têm capacidades de 10, 30 e 40 mil litros – transformando-os em modelos menores de 700 litros. Em 2023, eles foram preenchidos com a cachaça branca fabricada na destilaria de Pirassununga.

rótulo da cachaça sapucaia amendoim

O amendoim (Pterogyne nitens) é uma madeira brasileira geralmente utilizada em barricas de grande porte para o armazenamento de cachaças produzidas no Vale do Paraíba, região de origem da cachaça Sapucaia, e no litoral do Sudeste brasileiro. Atualmente, pelo alto risco de extinção da árvore é proibida a sua extração.

É raro no mercado de cachaças encontrar exemplares armazenados em barris de amendoim de 700 litros ou menores, fazendo do lançamento uma novidade bem-vinda.

A madeira é uma escolha há muito tempo promovida pela Sapucaia como uma das melhores opções para armazenar cachaça e gerar uma bebida que agrada os consumidores mais experientes. O amendoim oferece uma textura suave e altera delicadamente as características originais da cachaça branca. 

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