Quando era jovem, Natanael Bonicontro experimentou destilar a bebida que lhe havia rendido uma das piores bebedeiras. Foi amor, à segunda vista. Agora, ele é o responsável pela produção da Cachaça Companheira e ouvi-lo falar do destilado brasileiro é ter uma aula particular de história da cana-de-açúcar e química dos destilados. O engenheiro químico faz as coisas de forma diferente. A fábrica da Companheira, no Vale do Ivaí (PR), não é um alambique típico de Cachaça.
Natanael comprou a propriedade em 1993 para realizar o sonho de empreender e não queria “imitar” as destilarias tradicionais da região, fortes na produção de aguardente em coluna. Em vez disso, ele projetou e mandou construir seu próprio alambique, inspirado num processo de refino sofisticado, como o do petróleo. Leitor assíduo de livros, também bebeu de referências sobre a produção de uísque para desenvolver o destilador contínuo, inteiramente de cobre, com partes de fácil remoção para limpeza periódica, evitando o acúmulo de substâncias indesejáveis na bebida.
O alambique da Cachaça Companheira está situado em Jandaia do Sul, cidade que busca o título de capital paranaense da cachaça e a certificação de denominação de origem. O Paraná possui nove indicações geográficas e, se aprovada, essa será a primeira em cachaça do estado, especialmente, por causa da família Bonicontro. Jandaia aparece como a segunda cidade com maior número de marcas de aguardente do país, atrás apenas de São Roque de Canaã (ES), mas, quando se fala em produção artesanal de cachaça, nenhuma é tão prestigiada como a Companheira, única produtora da cidade.
O produtor aprendeu a teoria da destilação na faculdade, mas foi como engenheiro de processamento de petróleo, na Petrobras, que adquiriu o conhecimento prático aplicado, hoje, no alambique. Por mais estranha que possa parecer a comparação, Natanael explica: petróleo e cachaça têm igualmente, em sua composição, gases, substâncias voláteis, coração e cauda. Além dos rótulos próprios, a Companheira produz para marcas como a Cachaça Estância Moretti – medalha de duplo ouro no Concurso Mundial de Bruxelas 2021 – e tem influenciado a formação de novos produtores, como a microdestilaria de gin it44, nascida de um estágio na cachaçaria paranaense.
Natanael tem como meta alcançar a pureza das bebidas e, para isso, entende que é preciso controlar todo o processo. Ele colhe o máximo de doçura da cana-de-açúcar no canavial próprio. O que acontece no período de temperaturas mais baixas do inverno. Não usa produtos químicos e faz o corte manual, sem uso de fogo. Aplica leveduras próprias da cana para a fermentação em caldo o mais limpo possível, resultado dos cuidados na colheita e moagem. Ao mesmo tempo, acrescenta ter um solo rico em nutrientes, onde predominam rochas vulcânicas, que influenciam a fertilidade das plantas e autenticidade da cachaça.
“O solo de Jandaia do Sul é muito rico em todos os minerais. Aqui, não precisamos moer pó de rocha para misturar na terra. Estamos em cima da própria rocha. Nosso microclima, a variedade da cana que usamos, o processo de fermentação e a destilação na coluna de cobre garantem uma cachaça com baixo teor de congêneres, o que confere leveza à bebida”.
Natanel Bonicontro
Natanael está ampliando os tipos de madeira usadas no envelhecimento. Adepto do consagrado carvalho e famoso pelos blends, ele busca novos temperos, para além da tradição em imburana e da aposta em castanheira. Jaqueira parece estar na lista das madeiras brasileiras que serão adquiridas.
“As madeiras brasileiras são boas pra combinar com os carvalhos. O primeiro blend de carvalho com madeiras brasileiras foi a Cachaça Companheira Gatinha, carvalho francês e americano, um pouco de imburana e cachaça prata pra equilibrar. Fizemos também a Estância Moretti 4 madeiras e a Companheira Dueto que é um blend Premium terminado em barris de carvalho francês.”
Em 2022, quer ter também a própria marca de gin. Como autodidata, tem feito testes para compreender a influência dos botânicos e a diferença dos tipos de álcool para além do que lê nos livros. “A minha meta era viver do meu negócio. Foi longo o tempo de caminhada para chegar até aqui e, hoje, a empresa está crescendo. Me considero realizado, minhas filhas trabalham junto comigo e vão dar continuidade no negócio”.
Assim como o pai, as filhas Raquel de Brito Bonicontro e Sara de Brito Bonicontro também são apaixonadas por cachaça. Raquel é a master blender da Cachaça Companheira, já Sara cuida da imagem da marca. O nome é inspirado no comportamento do pássaro joão-de-barro e tem muita semelhança com a história dessa família cachaceira, resumida numa frase no slogan: “Mais do que feita à mão, Cachaça Companheira é feita com o coração”. Outra razão para experimentar.
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