Global Bar Week e o momento dos destilados brasileiros

  • Publicado 4 anos atrás

Nos dias 12 a 18 de outubro acontece o Global Bar Week, iniciativa criada pelo BCB para reunir a comunidade de bares e bebidas do mundo inteiro em 2020

O papel dos destilados brasileiros no mercado nacional está sendo redefinido por mudanças de cultura aceleradas pela pandemia. Um novo jeito de olhar e consumir produtos que valorizam a identidade local, artesanal, familiar e sustentável. Essa tendência, antes fortemente de nicho, parece ter ganhado fôlego com o isolamento social. Beber bem, até mesmo dentro de casa, virou o desejo nos últimos meses de muitos consumidores e o desafio de profissionais que precisaram se reinventar.

Nesse cenário, a presença online deixou de ser apenas um posicionamento e ganhou contornos de subsistência. O que parecia pouco otimista floresceu numa nova dinâmica, afinal, é da crise que brota a inovação. Com a retomada gradual, o conhecimento de novas técnicas e a troca de experiências se tornaram ainda mais importantes. E se os grandes eventos presenciais que marcam, anualmente, o setor de bebidas ainda não podem ser retomados, o jeito encontrado para fomentar o mercado e incentivar negócios foi disponibilizar tudo online.

Marcio Silva BCB

“O digital traz possibilidades incríveis, você não precisa mais escolher entre uma palestra e outra, pode maratonar”, diz Marco De la Roche, diretor de educação do BCB São Paulo. Pela primeira vez, as maiores feiras de destilados do mundo estão juntas e totalmente gratuitas na internet. O Bar Convent de Berlin e suas versões Brooklyn e São Paulo se uniram com a feira britânica Imbibe para promoverem conteúdos e análises pertinentes ao momento pós-pandemia.

Assim surgiu o Global Bar Week: uma plataforma hub que traz os maiores especialistas brasileiros e mundiais para promover a troca de experiências e insights sobre o que estaremos bebendo, amanhã. Serão 60 webinars em seis dias que vão da coquetelaria 3.0 à hospitalidade corporativa. O evento acontece de 12 a 18 de outubro e os brasileiros estão com lugar reservado, cerca de 25% do material exibido será de especialistas nacionais. 

Para Marco, vivemos a era de ouro da coquetelaria no país com maior oferta de produtos, consumidores mais exigentes e a expansão desse movimento para fora das capitais. “A coquetelaria é uma expressão do consumo alcoólico europeu e estadunidense, então é natural que a gente tenha na memória a história e os ingredientes importados, mas ao se firmar no Brasil, começamos a produzir nossa própria interpretação usando os nossos ingredientes”, completa.

Mauricio e Isadora no BCB

Hora de fazer a lição de casa

“Tudo se resume numa palavra: transformação”, diz Isadora Fornari fundadora da RosárioRSR, consultoria especializada em destilados nacionais e palestrante do evento online. Junto com Maurício Maia, cachacier e colunista do Estado de S. Paulo, vão discutir no Global Bar Week sobre “A Personalidade destilada do Brasi”. Para Isadora, o brasileiro parece ter medo de ousar e precisa aprender a compreender os traços que conferem a originalidade das bebidas para trazer verdades às suas criações.

Se há alguns anos os produtores eram cobrados para oferecer mais qualidade e melhor apresentação, hoje essa demanda recai sobre a outra ponta do mercado. “Agora é a hora dos bartenders, sommeliers, chefs de cozinha e pessoas que trabalham com isso fazerem a lição de casa”, resume. A assinatura, segundo Isadora, vai muito além da produção de um drink ou a releitura de uma receita, é preciso contar histórias que trazem verdades. “Fazer um coquetel que todo mundo faz é fácil, agora compreender um produto que já tem personalidade e fazer disso a base para criar uma outra coisa, isso sim faz um profissional ser incrível”.

Isadora fala de paixão e orgulho, de um sentimento de pertencimento ao que é nativo. Ela acredita que o caminho esteja no conhecimento, apropriação e multiplicação de conceitos, carregados de uma certa “nobreza”, como aqueles usados para descrever as bebidas importadas. “Precisamos apresentar com o mesmo orgulho que dizemos ‘esse é um vinho italiano’ para ‘esse é um vinho brasileiro’ ou então ‘isso é flambado numa cachaça envelhecida no Jequitibá’, os produtos nacionais já estão oferecendo isso, agora falta quem multiplique isso tanto num coquetel como num serviço”.

Felipe Jannuzzi no BCB

Mudanças aceleradas

De acordo com especialistas do setor, não existem razões para deixar de fortalecer o mercado interno nesse momento. As restrições impostas pela pandemia parecem ter agilizado mudanças de comportamento no consumidor, que passou a beber mais e  localmente. Felipe Jannuzzi, cofundador da Ethylica, distribuidora especializada em bebidas brasileiras, acredita que essa relação maior dos brasileiros com os produtos nacionais só vai aumentar. “Estamos vivendo com os destilados o mesmo processo que a cerveja fez tão bem, diversificando os produtos que o consumidor leva para casa”.

Puxado pela cachaça, esse movimento atinge outros destilados como gins, uísques, vermutes e runs brasileiros. Os motivos para projeções otimistas estão de um lado pautados no aumentando do consumo interno, enquanto de outro o país enfrenta reduções na compra de importados. O câmbio desfavorável restringe as importações e cria demandas locais de abastecimento. “Não faz sentido, financeiramente, você continuar consumindo coisas de fora, uma vez que o produto interno está muito mais vantajoso e definitivamente as possibilidades de construção de parcerias são muito mais viáveis do que alguém que nunca vai frequentar o seu bar.”, lembra Isadora.

Além do declínio dos produtos estrangeiros, a desvalorização do real contribui, ainda, para o aumento das viagens domésticas, fomentando um turismo ligado fortemente aos sabores e à gastronomia regional. “A família vai viajar para a Serra Gaúcha ou para Paraty, bebe um bom vinho ou uma boa cachaça e quando volta para a capital quer esse consumo, começa a falar desse produto e isso rapidamente muda uma cultura”, explica Felipe.

O criador do Mapa da Cachaça fala com a experiência de quem foi pioneiro no lançamento de Virga, o primeiro gin brasileiro a ser produzido num alambique de cachaça com ingredientes da terra. Uma mostra de que o mercado tem evoluído na valorização da identidade nacional, e tudo o que hoje é considerado tradicional, já foi inovação um dia. Para quem quiser saber mais, Felipe vai apresentar no Global Bar Week o webinar “A perspectiva histórica e o atual momento dos destilados brasileiros”.

Serviço: Global Bar Week

Data: 12 a 18 de outubro de 2020

Inscrições: gratuitas (exclusivamente para profissionais do setor de bebidas)

Informações: aqui

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