Fernando Henrique Cardoso sabe degustar cachaça

  • Publicado 14 anos atrás
Fernando Henrique Cardoso e o sommelier de cachaça Leandro Batista

Leandro Batista, sommelier de cachaça, ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por muitas vezes provou ser um verdadeiro conhecedor e amante do destilado brasileiro. No dia 21 de dezembro de 2001, FHC assinou o Decreto Nº 4062, que define as expressões “cachaça”, “Brasil” e “cachaça do Brasil” como indicações geográficas e dá outras providências que definiu a cachaça como um produto exclusivamente brasileiro, tomando uma das primeiras medidas para defender o produto no mercado internacional.

Na data de comemoração dos 500 anos de descobrimento do Brasil, a cachaça teve sua importância reconhecida por Fernando Henrique Cardoso, que a serviu para delegação portuguesa no brinde oficial de comemoração como símbolo de nossa brasilidade e nossa relação amistosa com outros povos.

Em 2011, o ex-presidente foi autor do prefácio do livro de Manoel Beato e Araquém Alcântara intitulado “Cachaça” (R$ 120,00):

Certamente alguns leitores podem se surpreender por me encontrar aqui prefaciando este livro; Afinal, não carrego a fama de cachaceiro que noutros grudam. Assim, de cara, esclareço que não pertenço a nenhuma turma que tenha no gole da marvada sua razão de existência. No máximo, que ninguém é de ferro, já tomei uma ou outra dose, junto com a Ruth, que gostava de uma pinguinha, como ela dizia, ou então oferecida por grandes amigos, como aqueles que escreveram e fotografaram este extraordinário livro, ambos com laços mais estreitos com a famosa água-que-passarinho-não-bebe.

O Manoel Beato e o Araquém, autores, sabiam que não sou propriamente um apreciador de bebidas alcoólicas, exceto um bom vinho, que entretanto sorvo pouco e devagar, quando me convidaram para prefaciar esta belíssima obra. Minha instigação pela cachaça brasileira é sociológica, e advém do fato de ser ela a mais genuína das bebidas nacionais, fazendo parte antiga da nossa história, sempre próxima dos caboclos e suas múltiplas miscigenações, que acabaram originando este povo maravilhoso que forma o Brasil.
Nesse sentido, fazendo parte de sua economia originária, de sua história e, portanto, de sua cultura, a cachaçaé um verdadeiro patrimônio nacional. Esse fato me autoriza a levantar loas a este livro que retrata, como ninguém nunca o fez antes, os caminhos, as venturas e as nuances da bebida nacional por excelência. Regiões de origem, modos de fabricação e preparo, as madeiras, e os gostos com as cores de suas tonéis – eu não sabia que a cabreúva era sinônimo de bálsamo -, o bouquet, a boa degustação, tudo isso e muito mais. O relato se assemelha ao daqueles conhecidos livros dos enólogos, ramo no qual, aliás, Manoel Beato também é craque. Curioso, e gostoso de ler. Fora as maravilhosas fotos que os textos acompanham.

Vou me permitir, ainda, acrescentar uma pitada de história. A cachaça não teve uma vida fácil no início de sua trajetória de sucesso, desde quando foi inventada, lá por volta daquele longínquo 1532, ano em que Martim Afonso de Souza trouxe a cana-de-açúcar ao recém-descoberto mundo. Desde então, por ser fácil de produzir e barata, caiu no agrado dos escravos e do povo mais simples de nossa formação histórica.

Mas até chegar no mercado de elite gourmet de hoje, e ser exportada para tantos países, a cachaça sofreu a perseguição dos poderosos de antanho. Os alambiques foram proibidos de funcionar pela Coroa portuguesa em 1659, devido à concorrência que a pinga brasileira poderia fazer, e de fato fazia, com a bagaceira portuguesa. Mas para que a “revolta da cachaça”, entretanto, não sucedesse com êxito, porque se esboçava forte, em 13 de setembro de 1661 a produção e comercialização da pinga ficavam liberadas por ordem da Regente Luíza de Gusmão. Daí para a frente, não teve quem segurasse seu sucesso.

Por séculos a cachaça teve sua importância histórica apequenada no Brasil. Não é estranho que tal tenha acontecido. Os historiadores sabem que os relatos sobre os acontecimentos humanos se tingem das cores pintadas por quem detém o poder no momento em que eles ocorrem. Felizmente, porém, percebe-se não apenas aqui, na história da cachaça, mas igualmente naquelas outras que relatam vários episódios próximos à nossa gente, crescentemente vemos descortinar relatos, digamos, mais imparciais, sobre nossa formação histórica, valorizando nossas origens mais genuínas. A boa cachaça por si só merece uma comemoração. Este livro, porém, ultrapassa em muito a qualidade intrínseca da bebida. Ele ajuda a resgatar um pedaço meio esquecido da história do Brasil. Boa Leitura – Fernando Henrique Cardoso.

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