Martelinho, taça ISO, copo de whisky, taça de vinho ou uma taça especial para cachaça… qual a melhor forma de se tomar a aguardente brasileira?
Qual o problema dos copinhos de shot?

Copo Martelinho, um dos mais populares para consumo de cachaça
Entre os principais problemas que eu encontro em todas as casas que presto consultoria, além dos de armazenamento e temperatura correta de serviço, está o copo de shot. Copinho é erro. É falta de respeito com a cachaça. Eu adoraria tomar a marvada em taça flute, como uma forma de contrapor a identidade do pinguço virando copinhos e do respeito com os espumantes, por exemplo. Mas se o cliente puder tomar em um copo americano, ou de requeijão que seja, a experiência já aumenta. Naquele copinho, a capacidade de a cachaça desenvolver buquê é quase zero. Você não tem qualidade sensorial para apreciar coisa nenhuma em copo de shot, é um gole só, praticamente. É claro que, se a intenção é a de virar a bebida numa golada, não tem problema nenhum. Entretanto, se o cliente pede uma dose medida no copinho e depois vira em outro copo mais longo, ele já vai ter uma experiência muito maior. A cachaça é muito sedutora, ela não se revela de uma vez. Os aromas e sabores vão evoluindo aos poucos, são muitas camadas. Eu não quero acabar com nenhuma cultura nem com tradições, mas propor uma experiência muito mais completa e complexa. Por isso que eu brinco que o copo de shot devia ser quebrado em todos os lugares que querem levar a bebida a sério e entendê-la com mais profundidade.
Não tem problema tomar cachaça de uma golada só usando o copo de “shot”, o também chamado popularmente de “martelinho”, mas com outros copos ou taças, a experiência é muito mais completa – Isadora Bello Fornari, especialista em cachaça.
Como propor isso aos restaurantes?
O processo é de formiguinha, não tenha dúvida. E é um dos assuntos que vou propor na aula. Existe uma demanda muito grande por informação a respeito do serviço de cachaça, mas ainda existe pouca demanda por parte dos restaurantes. Em primeiro lugar, acho que a gente precisa começar a fazer um trabalho de equiparação entre a cachaça e o vinho, além de capacitar profissionais para trabalhar vendendo melhor a cachaça. Existe toda uma cadeia entre a produção de uma bebida de qualidade até o serviço de excelência. Se os restaurantes se propuserem a isso, vão vender mais cachaça, tenha certeza. As experiências sensoriais que podem ser criadas são muitas e a maioria é inédita, mas as pessoas não tem noção disso. Como eu gosto muito do serviço de salão, de conversar com as pessoas, eu entendo o poder de mudar a vida de um cliente. Basta uma conversa individual e um tratamento adequado para ele sair maravilhado: “Poxa vida, você transformou completamente minha experiência com a cachaça”. Tem muita coisa ainda para explorar.
Essas experiências sensoriais vão ser abordadas durante a aula?
Eu quero falar o básico sobre serviço. Do contrário, seriam dias para explicar esse universo complexo que vai do serviço do valet até a conta sendo paga e o comentário positivo nas redes sociais. Minha intenção, mais do que isso, é propor uma experiência divertida para que as pessoas criem bagagem e entendam elementos que podem ajudar ou prejudicar a experiência. Então, eu vou propor algumas experimentações como a de comer amêndoa junto com a cachaça, para aumentar a acidez da bebida. Na interação das duas coisas, a gente acaba com a untuosidade da branquinha, vai ficar horrível, eles vão me odiar (risos). Daí, eu apresento o almeirão, para eles buscarem o doce da caninha, e espero ser redimida. São essas as brincadeiras que eu quero levar para os apreciadores. É importantíssimo entender que a cachaça é tão complexa, que quebrar os copinhos de shot é o mínimo a se fazer para aumentar o respeito à ela.
wilson jose catalan
março 29, 2017
Boa noite. Pode-se servir cachaça em uma taça flute de 180ml em um restaurante? Obrigado. Espero resposta.
wilson jose catalan
março 29, 2017
Sendo à dose de 60ml?