4 Cachaças para o Dia dos Pais

  • Publicado 11 anos atrás

Nesta lista estão 4 cachaças que conheço bem e algumas delas tive inclusive a oportunidade de conhecer o alambique. Por isso, vou tentar deixar esse texto bastante ilustrativo, com fotos e vídeos desses lugares que visitamos. Dessa forma, muito além de passar minhas pesquisas sensoriais sobre cachaça, gostaria de compartilhar com vocês algumas dessas histórias que escutamos na estrada.

Apesar de ser um grande apreciador de madeiras brasileiras, vocês vão perceber que priorizei o carvalho nesta seleção. A razão disso é a maior afinidade que muitas pessoas, como o meu pai, têm com o carvalho – madeira usada para envelhecer outros destilados, como o uísque e o rum. Se o seu pai gosta de uísque, talvez seja uma boa estratégia começar com as cachaças envelhecidas ou armazenadas nessa madeira.

Cada cachaça aqui é distinta, com diferenças nítidas de aroma e paladar. É impressionante perceber essas diferenças entre cachaças envelhecidas na mesma madeira e pelo mesmo tempo. As variáveis como o tamanho do barril, tipo de tosta, características da branquinha, terroir ou até mesmo o histórico de envelhecimento do barril (alguns eram usados para envelhecer outras bebidas como o vinho do porto) fazem da cachaça um destilado muito complexo e cada safra uma viagem única. Para entender os critérios que me fizeram escolher essas cachaças, eu falo mais quando escrevo sobre as cachaças com conceito.

Chega de papo, vamos lá:

Sapucaia Real – 18 anos

Da minha seleção de Dia dos Pais, a [cachaca id=”7518″]Sapucaia Real 18 Anos[/cachaca], de Pindamonhangaba, é a que mais tempo fica envelhecendo no carvalho. O rótulo sinaliza 18 anos. Muitas perguntas surgem quando falamos de uma cachaça que passa tanto tempo na madeira, a primeira e mais relevante delas: A cachaça não evapora no barril? A resposta é simples: SIM! Calor, umidade e até as propriedades da madeira são responsáveis pela evaporação da cachaça no barril que pode chegar de 2-3% ao ano. Ou seja, em 18 anos não teríamos muita bebida para contar história. Eu perguntei para o produtor Alexandre Bertin sobre essa questão e sua resposta me surpreendeu. Na Sapucaia eles deixam a cachaça evaporar mesmo e não repõe com cachaça nova. Vou contar como:

Na década de 90, eles tinham cachaça envelhecendo em 600 barris de carvalho europeu de 250 litros cada. Portanto, há um volume grande de cachaça envelhecendo nos barris de carvalho da Sapucaia. Em 2008, resolveram colocar mais ou menos 3 mil litros dessa cachaça envelhecida num tonel  de 4 mil litros em formato de cartola deitada chamado de “Titanic”. Todas as garrafas da Sapucaia Real 18 anos são provenientes desse tonel “Titanic”, que a cada ano perde mais e mais cachaça pelos efeitos da evaporação.

Por isso, como vocês devem imaginar, a [cachaca id=”7518″]Sapucaia Real[/cachaca] é bastante amadeirada. Mas fazendo uma comparação com outras cachaças envelhecidas em carvalho, não sentimos tanto o amargor e a boca amarrada que a madeira pode trazer. Acredito que a razão disso seja porque os barris da Sapucaia são muito antigos, com mais de 30 anos, e já bastante usados – deixando de trazer essas características mais verdes de uma madeira nova.

A [cachaca id=”7518″]Sapucaia Real 18 Anos[/cachaca] é uma cachaça com uma nítida presença de baunilha e toques de cereja. Pelo seu teor alcoólico mais ameno (40%) e a prevalência da doçura no aroma e paladar, é uma cachaça boa para quem está começando a conhecer o mundo dos aromas e sabores da bendita.

Pelo tempo de envelhecimento e edição limitada, a Sapucaia Real é a mais cara da seleção custando em torno de R$ 180. Pela característica mais amadeirada, recomendo harmonizá-la com um bom charuto, como nos ensina o especialista Cesar Adames no vídeo abaixo:

Mato Dentro – Bálsamo

(degustei a Mato Dentro Bálsamo produzida em julho de 2013)

Recentemente, estivemos no alambique da cachaça Mato Dentro em São Luis do Paraitinga para ouvirmos as histórias do Sr. Romulo Cembranelli e aprendermos mais sobre sua produção. O mestre alambiqueiro da Mato Dentro é o Nelson Alvarenga que a 27 anos produz cachaça com a supervisão atenta do Sr. Romulo.

As características da [cachaca id=”18281″]Mato Dentro Bálsamo[/cachaca] trazem uma combinação de uma cachaça branca muito aromática, com cheiro doce da cana-de-açúcar somado aos elementos herbais, próprios do bálsamo, deixando a cachaça fresca, picante e pungente. Ela amarra na boca, uma sensação que eu aprecio, mas pode ser difícil para quem não está acostumado.  O bálsamo é uma madeira muito masculina, ele deixa a cachaça com um gosto muito presente da madeira, tornando-a amarga ao mesmo tempo que traz um frescor.

Cachaçaria Mato Dentro - São Luis do Paraitinga

Nos experimentos que realizei por aqui, percebi que o bálsamo, ariribá e a amburana são madeiras difíceis. Acredito que cachaças boas armazenadas nessas madeiras passaram por muitos testes e possuem os seus segredos. Ao visitarmos a Mato Dentro, descobrimos a sua fórmula, que com a permissão dos produtores compartilhamos aqui:

Logo após a destilação, a cachaça branca passa 7 meses por barris de bálsamo de 250 litros. Depois, a cachaça já armazenada em bálsamo, passa mais 6 meses em carvalho. Ao deixarmos a cachaça descansando no copo, depois do álcool evaporar, conseguimos sentir a presença do carvalho no aroma, complementando a mistura com uma doçura e trazendo equilíbrio à cachaça.

Em São Luis do Paraitinga uma garrafa da [cachaca id=”18281″]Mato Dentro Bálsamo[/cachaca] custava R$ 50, fora da cidade esse valor pode até dobrar.

Ao contar suas referências, Sr. Romulo nos fala de Anísio Santiago, produtor da mítica Havana de Salinas. O produtor de São Luis do Paraitinga diz que segue a máxima de Santiago: produz pensando em qualidade e não em quantidade. Ao falar sobre o uso do bálsamo para envelhecimento ou armazenamento de cachaça, prática tradicional em Salinas graças à Havana, Sr. Romulo diz ter se inspirado nos produtores do norte de Minas, porém acredita ser impossível deixar a bebida anos e anos no barril, como garantem os outros discípulos de Anísio. Quando estive em Salinas no alambique da Havana a única coisa que não me deixaram ver foi a sala de envelhecimento, talvez o grande segredo dos produtores locais. Mas estou com o Sr. Cembranelli, ainda estou para ver uma cachaça boa envelhecida muitos anos no bálsamo.

Deixo aqui um depoimento do filho de Anísio Santiago, o Osvaldo – atual responsável pela produção das cachaças Havana e Anísio Santiago.

Reserva do Nosco Envelhecida

A [cachaca id=”7112″]Reserva do Nosco [/cachaca] é uma premiada cachaça vinda de Engenheiro Passos no Rio de Janeiro. No ano passado, conheci rapidamente o seu produtor Marcelo Nordskog numa feira em São Paulo e gostei de degustar a sua versão branquinha.

Em 2007, Marcelo deixou o mercado financeiro para produzir cachaça artesanal no Vale do Paraíba. O nome dessa cachaça é uma homenagem ao seu avô Erick Nordskog, conhecido no Brasil logo que chegou da Noruega como “Seu Nosco”.

Garrafa da Reserva do Nosco

A [cachaca id=”7112″]Reserva do Nosco Envelhecida[/cachaca] é uma cachaça que fica 3 anos em barris de carvalho europeu de 180 – 200 litros. É uma cachaça de muita personalidade. Forte, com 44% de teor alcoólico, muita presença na boca que dura alguns bons segundos. Como os barris são antigos, com mais de 30 anos, a percepção do amargor está pouco presente e a cachaça tende mais para o doce da baunilha, bem sutil, e um aroma que me lembra ameixa.

A Reserva do Nosco Envelhecida custa em torno de R$ 40- R$ 50.

Weber Haus Premium Carvalho

(degustei a Weber Haus Premium Carvalho produzida em 2005)

Num primeiro momento, queria escrever sobre o blend 3 anos da cachaça [cachaca id=”16575″]Weber Haus Carvalho e Cabreuva [/cachaca]. Realmente, considero o blend dessas duas madeiras como um dos meus favoritos – várias marcas tem meu respeito por acreditarem nessa mistura. Mas ao provar a cachaça envelhecida em carvalho dos Weber, achei tão diferente das outras degustadas até então que a menção era necessária.

Cachaça Weber Haus - Ivoti - Rio Grande do Sul

A Weber Haus tem uma linha coerente de cachaças. Elas são cachaças de alta bebabilidade, ou seja, são mais docinhas e  possuem um teor alcoólico mais ameno. Mesmo a recém lançada Weber Canela-Sassafrás tem aquele gosto de baunilha bem presente – influência da amburana na mistura.

A [cachaca id=”15250″]Weber Haus Premium Carvalho [/cachaca] tem graduação alcoólica de 38%, a menor graduação possível numa cachaça. Ela passa por 3 anos em barris de carvalho francês de 250 litros. Os barris eram antes usados para armazenar vinho do porto. Apesar de ficar o mesmo tempo envelhecendo que a Reserva do Nosco, o produto é muito diferente. A Weber Premium é uma cachaça verde, fresca, com uma picância que me lembra algumas vezes o bálsamo, mas menos pungente e com o doce da vanilina, principalmente no aroma. O segredo de tamanha diferença, além de processos distintos de produção da branquinha, está no tipo de carvalho e na tosta do barril. Em Ivoti, o produtor Evandro Weber restaura os seus barris a cada 3 anos, utilizando um processo que não aplica fogo direto à madeira, trazendo esse frescor muito presente em todas as suas cachaças que passam por carvalho.

A [cachaca id=”15250″]Weber Haus Premium Carvalho [/cachaca] pode ser encontrada por R$ 85.

No ano passado, estivemos nos alambiques gaúchos para conhecer mais sobre o que o pessoal anda fazendo por lá. Vimos uma turma unida, investindo em tecnologia, como no uso de leveduras selecionadas e em qualidade. Tivemos a oportunidade de conhecer Ivoti, terra dos Weber, e documentar a história da colonização alemã no Rio Grande do Sul. No vídeo abaixo, contamos mais sobre essa história e apresentamos o Sr. Hugo, a Sra. Eugênia e toda família Weber Haus.

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Todas as cachaças apresentadas aqui foram analisadas sensorialmente. Não faz sentido falar de cachaça que não provamos, não é mesmo?

Para elaborar essa lista, pensei no meu pai, que ainda não é um grande apreciador de cachaça, mas tem muito potencial!

Aqui no Mapa da Cachaça, de forma isenta e independente, queremos mapear e divulgar as melhores cachaças do Brasil. Para esse processo, contamos com a ajuda de diversos especialistas, pesquisadores e produtores.

Muitas dessas cachaças tivemos a oportunidade de conhecer os seus alambiques pessoalmente e fazer perguntas aos mestre alambiqueiros sobre os detalhes da produção. Além de beber as suas versões que passam por madeira, também provamos as branquinhas. É muito legal perceber as diferenças entre cachaças brancas – bases para uma boa cachaça envelhecida.

Com isso, queremos também valorizar as cachaças de qualidade e ajudar o consumidor a entender mais sobre o destilado brasileiro – tão bom (ou até melhor) quanto um excelente uísque.

Caso você seja um produtor lendo esse artigo e gostaria de nos enviar suas cachaças, deixo abaixo nosso endereço em São Paulo.

R. Itápolis, 591 – Pacaembu – São Paulo – 1245-000

Faço também o convite para nos contar suas histórias no: http://mapadacachaca.com.br/guia/cadastro-cachaca/

Todas as cachaças que recebemos são provadas e quando conseguimos, tiramos fotos e produzimos textos.

Abraços e Feliz Dia dos Pais!

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