Cachaça Discovery – EP. 2: Erick Rodríguez

  • Publicado 8 anos atrás

Nate:

Olá pessoal, obrigado e bem-vindos ao segundo podcast: Cachaça Discovered by Avuá Cachaça and Mapa da Cachaça. Hoje nós temos no nosso show, Erick Rodriguez do Mezcalito Pal’Alma, grande conhecedor do bebidas destiladas rústicas. Primeiramente, muito obrigado Erick por participar do nosso show e seja bem vindo.

Erick:

Muito obrigado por essa oportunidade de levar o mezcal para fora do México.

Nate:

Com certeza!

Felipe:

Muito prazer. Eu vejo que seu usuário do Skype é Alma Mezcalera. Eu sou uma alma cachaceira.

Risadas.

Erick Rodriguez - Alma Mezcalera

Erick Rodriguez, um mexicano com a alma Mezcalera!

Erick:

Tudo deve ser feito com a alma. E essa é a razão da minha marca ser alma mezcalera, que significa a essência do mezcal. Se você não tem alma, se você não faz algo de alma e coração, ou seja, é melhor fazer outra coisa.

Felipe:

Eu concordo completamente com você!

Nate:

Hoje no show, nós vamos falar sobre o mezcal, das diferentes variedades e da sua rica história, e talvez como isso se relaciona com o que vários produtores de cachaça estão tentando fazer. Nós observamos um crescimento do interesse pelo mezcal de qualidade e eu acredito que você (Erick) teve uma grande contribuição nisso. E é interessante entender como isso vai acontecer com a cachaça. Para começar, parece que ambos, mezcal e cachaça, são tipos destilados humildes, destilados do povo, eles são destilados de comunidades indigenas, de tribos como Nahuatl e outras tribos astecas, e no caso da cachaça com as tradições dos ancestrais brasileiros. E eles desenvolveram ao longo de anos uma bebida nobre, que nem sempre foi reconhecida como uma. Hoje, nós temos pessoas que afirmam que temos uma série de nobres mezcals disponíveis com alta qualidade e com produção altamente tradicional. Erick, você esteve em torno de todo o crescimente do mezcal como categoria e tem uma contribuição justa neste sucesso, então talvez você possa nos dizer como isso tem sido na sua perspecrtiva e o que isso significa para a destilada irmã, a cachaça.

Erick:

Primeiramente o que eu faço é uma investigação por todo o México para encontrar raros e pequenos produtores, e entender qual deles respeita o processo de produção tradicional do mescal. Eu não tento tornar esse produtor mais rico, uma vez que ele conserva uma séries de tradições locais. Nós não produzimos além do que é possível, nós tentamos preservar cada etapa dessa tradição. E isso acontece quando você tem um verdadeira paixão, por ver como esse produtos são produzidos por todo o México. Recentemente, alguém me ligou e disse que tem o meu mezcal, mas descobre que tem apenas 55 litros e eles perguntam por que não colocamos água no mezcal, como uma séries de outros novos mezcals vem fazendo. E uma série de pessoas tentam fazer dinheiro com isso, mas o ponto é que o mais importante é fazer o verdadeiro mescal. Hoje temos várias marcas que mentem para as pessoas dizendo que este mezcal é feito com preciosos agaves, como a tobala, mas eles nem se quer colocam o real produto em suas garrafas. Hoje, as tobalas estão quase extintas, pois muitas pessoas tentam colher altas quantidades, e agora temos quantidades limitadas. Nós tentamos fazer o caminho contrário, tentamos preservar o que essas comunidades fazem por gerações e gerações. Meu trabalho é aprender com os reais destiladores. Eu tento vender e fazer as pessoas entenderem o que foi feito por gerações.

Nate:

Indo ao campo e encontrando incríveis mescals, e não fazendo isso apenas para sua marca. Você é umas das primeiras pessoas a fazer isso no meu entendimento. Por que você acredita que o mercado americano e europeu de repente começaram a se interessar pelo mescal.

Erick:

Bom, mezcal é o mais bonito e mais perfeito destilado que existe. Apenas veja um agave, que leva entre quatro e setenta anos para amadurecer e usada para produzir o mezcal. E hoje você tem a tradição local, os diferentes modos de fazer o mescal, a fermentação, a destilação, como as pessoas fermentam no alto das montanhas, como eles adicionam o “pulque”, as diferentes técnicas e o fato deles nuncam substituírem o ferramentário da produção. Eles apenas destilam com argila e madeira, ou argila com captação interna. Eu acredito que o centro do mezcal seja em San Luis Potosi. Eles tem um dos mais antigos mescals que continuam com a tradição, e os registros nos livros vem dos ancentrais, os filipinos, e sua destilação que chega ao México. Como nós sabemos a cultura asiática é mais antiga que a cultura mexicana. Não temos nenhum registro, mas o que se sabe é que os avôs e os avôs dos avôs vem fazendo isso por mais de seis gerações.

Felipe:

Eu acompanho você nessa paixão pelo mezcal, e nós estamos tentando fazer a mesma coisa no Brasil com cachaça. Eu tenho um projeto chamado Mapa da Cachaça, no qual nós viajamos pelo país, tentando aprender com os produtores locais sobre sua cultura. Nós vemos a Cachça como o autêntico destilado do Brasil e estamos coletando informação para espalhar essa mensagem pelo mundo. E isso é bom para nós aprendermos, que as vezes não se coloca água na cachaça, que isso pode destruir totalmente a origem, o aspecto cultural e como isso tem sido feito por 100-200 anos. Umas das coisas mais difíceis de convencer os produtores, é que existe muito valor, não só financeiro mas também histórico e cultural, quando você levanta uma bandeira, explicando sua tradição em fazer da maneira como seus antepassados estavam acostumados a fazer. O Brasil é um país enorme e nós vemos diferentes tipos e variedades de cana de açucar, e diferentes clima e origens de solo, diferentes tipos de leveduras e também diferentes tipos de madeira que são incríveis. Por exemplo, nós temos um certo local aqui chamado Paraty, onde a cachaca é produzida por mais de 300 anos. no qual existe um jeito tradicional de fazer isso, usando a cana de açúcar que nasce nas serras e que recebe a brisa do oceano. Mas hoje, produtores estão comprando a cana de outras partes do Brasil, como por exemplo, de uma cidade que fica a 1 hora de distância de Paraty. Produtores ao invés de usar leveduras naturais, estão comprando leveduras  para ganhar mais produção. Produtores estão usando madeiras comerciais como o carvalho, e até amburana, que é brasileira, mas não faz parte da tradição da cachaça de Paraty. Minha pergunta é, como eu posso ajudar o produtor entender o valor que ele tem em suas mãos, e fazer ele comunicar o que é feito por tantos anos?

Erick:

Eu entendo totalmente o seu ponto de vista. Mas eu acho que isso é uma das coisas mais difíceis de dizer isso à essas pessoas, porque elas nunca deixaram sua comunidade. Elas realmente não entendem o lado de fora. E o que podemos fazer é explicar todas as vezes, o valor real do que elas fazem. E se elas participarem disso, elas terão a certeza de que serão bem pagos, e terão a consciência, que todo o trabalho que eles fazem por gerações, para preservar esta cultura vale a pena. Porque o que cada pai de família deseja, é que sua família e seu trabalho sejam bem sucedido, e que isso sustente toda sua família. Porque mesmo no caso do mezcal, eles não estão juntos como um grupo. Porque aqui no México eles estão com inveja um dos outros, porque cada um deles pensa que faz o melhor mezcal. Eu entendo totalmente esta tradição, porque se eles sentem que seu mescal não é o melhor, isso significa que depois deste um mês e meio de trabalho para ter apenas 80 litros, eu provavelmente estou fazendo algo errado na minha vida. É por isso que eles estão sempre dizendo às pessoas seu mescal é o melhor. Porque eles sabem quanto trabalho que eles estão fazendo por trás disso. Porque você aprende de perto com eles e espalhar a palavra, o mais longe você conseguir. Mesmo que eles não confiem em você como na comunidade, porque eles não prestam a atenção para o exterior, na cabeça deles pelo menos eles estão vendendo bem para apoiar sua comunidade. Temos de compreender que somos parte da cadeia desta antiga tradição. Nós podemos fazer esse tipo de trabalho, mas eles não têm a chance de fazer isso. Se você perguntar-lhes como fazer vídeos, quando eles estão me contando sobre seus vídeos, que eu tento compartilhar com as pessoas. Eu visitei vários mestres destiladores, como esse casal, que produz apenas 60 litros a cada quatro meses, constantemente, em torno de 300 litros por ano. E o marido machucou o pé, e agora a mulher toma toda a responsabilidade, é um trabalho muito difícil, e eles me dizem quem é a única que está trabalhando aqui, eu entrego a eles o dinheiro, dou um aperto de mãos, e me dou conta que as mãos da mulher estavam cheios de calos por causa do trabalho. Esta é uma coisa que você precisa se orgulhar, mesmo quando o homem não está trabalhando, você assumiu essa tradição, e suas mãos estão suportando toda a família.

Nate:

Uma coisa que é interessante sobre o mescal e a cachaça que é feita de maneira apropriada, é a quantidade de trabalho usada para eles. É muito trabalho braçal, e isso é uma razão que pelo qual os bares dos EUA começaram a ficar interessados neles, porque é muito diferente do que a produção em escala. É provavel que se você crescer e isso não for parte de sua vida, quando você ver como as pessoas têm feito esse processo por centenas de anos, e seus antepassados podem ter feito isso da mesma forma, talvez isso seja algo atraente, e eu me pergunto se isso é por isso que as pessoas começaram a provar o mescal. Felipe, você acha que isso é uma coisa justa a dizer sobre as pequenos lotes de cachaças, como a artesenal Maria Izabel.

Felipe:

Eu acho que é por isso que as pessoas decidem provar, porque aqui no Brasil as pessoas não sabem muito sobre o mescal, e quando falamos sobre como promover cachaça, as pessoas fazem a comparação com a tequila. O governo mexicano divulgou a mensagem sobre tequila durante a Copa do Mundo no México em 1986. Mesmo tendo um destilado muito mais interessante do agave que é o mescal, que tem tantas analogias com o tipo de cachaças artesanais que estamos falando aqui. Eu acredito que nós precisamos fazer mais coisas em conjunto, para encontrar similaridades, para encontrar pessoas como você, que compartilham conosco a história desta mulher trabalhando em sua produção de mescal. Temos muitas histórias semelhantes aqui. E devemos falar mais sobre isso. Assim outras pessoas podem se interessar. Algo que você disse, que é mais um aspecto cultural/ antropológico, é a forma como a produção desse destilado tem tantas particularidades. A forma como as pessoas produzem isso. Isso também é algo muito interessante, e algo que eu quero aprender mais sobre e descrever mais para as pessoas quando eu falar de cachaça. Outra questão é a parte técnica, o método de produção e local,  que é a definição de terroir. Eu sei que no México você tem isso realmente bem melhor definido, as pessoas discutem sobre diferentes tipos de agave, diferentes tipos de produção. Aqui no Brasil, apesar de termos um destilado muito antigo, a cachaça faz neste ano 500 anos de idade, mas ninguém nunca fez isso. Ninguém nunca tentou comparar um terroir do Sul com um terroir do Norte, e tentar realmente apontar a diferenca real dos lugares de produção. Este é um trabalho incrível que vocês estão fazendo por aí.

Nate:

Isso me lembra algo que Dave Wondrich disse, que eu achei muito interessante, é sobre como as pessoas aprendem sobre destilados. É só olhar para o passado, quando as pessoas começaram a catalogar videiras francesas. Quando eles começaram a catalogar vinhos na Europa, quando elas começaram as denominações pela origem. Existe realmente entendimento profundo da história para isso. Isso aconteceu durante toda a história, e em seguida, foi finalizado por Napoleão no início de 1800. Se olharmos para o vinho, ou se olharmos para conhaques, ou se olharmos para uísques, as pessoas sabem muito sobre isso. Basicamente, a razão pela qual sabemos muito mais sobre isso, é que alguém, há 150 anos, foi educado por vários comerciantes de vinho sobre este tipo de uvas que são usadas em Saint- Emilion. Entretanto, não vimos o mesmo em categorias como o mescal, que Erick começou o trabalho. Isso também é algo que acredito que Felipe esteja fazendo.

Erick:

Se você tentar colocar isso junto ao grande exemplo do vinho, que tem micro-regiões, e se você voltar no tempo, no México, então poderíamos começar de novo. Temos apenas dez micro regiões até agora, mas começamos em 1994 com 5. E o México tem 26 estados diferentes que produzem o mescal. Vocês deveriam fazer algo parecido com a cachaça, eu acredito que se vocês tentarem fazer algo apenas para iniciar a categoria e tentar explicar a diferença entre o sul e o norte, e o que cada comunidade faz. Acredito que essas micro-regiões podem ser boas para vocês. Isso é o que posso compartilhar. Porque no México continuamos brigando para mais estados receberem o mescal . Caso contrário, estamos lutando contra um NOM-199, onde eles tiram o nome agave nome do destilado não produzidos dentro destes 9 estados. Agora eles começam querem retirar algo que pertence aos mexicanos, a nação, o nome do agave. E eu penso que vocês podem começar a nomear por micro-região que caracterizaria ser a melhor forma para você compartilhar a nossa experiência.

Nate:

Isso é algo que aponta para o fato de que uma vez que você tem um desses “DOC”, os produtores querem protege-los, porque acreditam que eles vão vender mais do que os outros. Mas no final do dia, há uma boa rede de relações, um benefício para todos, para aqueles “DOC” que realmente refletem a tradição, porque esse é o momento quando você começa a educar o consumidor. Relaciono muitas vezes isso com a cachaça, eu passo a maior parte do meu tempo contando aos gringos americanos sobre a cachaça, porque queremos um consumidor informado. Você precisa de um consumidor educado que irá compreender a diferença entre o mescal de Oaxaca e o mescal de San Luis Potosi, um “raicilla”, um “sotol”, e os diferentes tipos de elementos. E provavelmente há muitos tipos de destilados de agave que nem sequer foram nomeados, que as pessoas nem os conhecem.

Erick:

Eles sempre recebem nomes locais, e todos reconhecem como o destilado de agave. Todos tem algo em comum, na destilação agave, eles fermentam agave e eles cozinham agave. Mesmo que localmente o nome é diferente, porque esses nomes são recebidos através das gerações. Eles não estão usando nomes científicos para descrever o que eles fazem. Tudo o que sei é que eles cozinham, fermentam e destilam o agave. Pessoas como nós tentam chegar a eles e dizer que você faz um mescal, temos de continuar com esta tradição. As pessoas precisam conhecer estas comunidades e entender o que elas fazem nessas comunidades. Quando você provar algo de Oaxaca você saberá pelo cheiro e pelo gosto, o que acontece muitas vezes, eu sempre sei que tipo de região vem. Podemos olhar para a indústria do vinho, que acredito que seja bem parecida. É por lotes, cada lote é único e diferente, onde você obtém as uvas. Eu acredito que cada etapa desses processos é muito semelhantes. Repetimos sem uma receita e as mãos dos mestre destiladores é a mesma. Nós nunca repetimos o gosto, cada um tem um gosto diferente, mesmo de um lote para o outro podemos ter um mescal mais seco, porque agave tem mais concentração de açúcares, e, provavelmente, o lote de um ano é melhor do que os outros. Mas essa é a beleza do fermento natural, alguns são amargos. Tivemos algum estudioso que fez algumas pesquisas sobre os “palenques”, e alguns tinham a mesma levedura. Existem três leveduras semelhantes. Existem palmeiras que ficam no proceso de fermentação. Os destiladores mestres sabem quando a fermentação é feita. Quando algumas pessoas usam capão agave, o que significa que quando o agave amadurece, cresce a “piote”, que é uma haste que eles cortam e eles dizem que engorda. Porque uma vez que o açúcar escapa do piote. Quanto mais açúcar você tiver, significa que terá o melhor mescal.

Felipe:

Hoje existem cerca de 4000 marcas de cachaça – falando sobre as marcas formais, quando você fala sobre os informais as pessoas dizem que existem mais de 40.000. Dessas 4.000 marcas sei apenas de três que colocam no rótulo quais variedades de cana que eles usam. Isso é uma pena porque eu realmente acredito no potencial da matéria-prima para diferenciar uma cachaça.

A fermentação pode variar dependendo da região, cada região tem sua própria identiidade, como 10-12 que realmente você pode falar sobre terroir. Aqui ainda estamos falando sobre cachaças destiladas em alambiques e colunas, e as pessoas ficam espantadas com essa diferença. Talvez estejamos um passo atrás para falar de descrições mais complexas. Talvez nós devemos começar falando sobre o que é artesanal na cachaça, o que é a fermentação natural, e depois de entendermos isso podemos falar sobre os diferentes tipos de terroir, por exemplo. O que você acha disso? Aconteceu o mesmo com o mescal?

Erick:

Bom, o que nós três defendemos aqui é o respeito pelas tradições, o que pedimos ao CRM, o nosso órgão regulador, é que ele faça uma divisão em três categorias para o mescal: industrial, artesanal, e ancestral. Usamos três palavras diferentes para descrever nossos produtos, pois a forma ancestral respeita diferentes passos . E os outros dois podem fazer como quiserem. O mesmo vale para a cachaça tradicional, onde vocês tentam informar as pessoas sobre como sua cachaça se diferencia das outras marcas. Em primeiro lugar, tente dizer que você não quer competir, porque você não está produzindo em escala. Eles precisam considerar todas estas diferentes gerações e o respeito por toda a tradição da cachaça.

Felipe:

Infelizmente, o que vemos acontecer aqui é o oposto. As pessoas não entendem a cachaça artesanal, e os impostos estão crescendo cada vez mais, e os produtores industriais estão colocando no mercado produtos que são visualmente parecido: uma boa garrafa, uma aguardente com bastante madeira – eles estão tomando o lugar dos pequenos produtores, e dificultando o entendimento do consumidor.

Erick:

O que eu faço com a minha marca, minha marca não é nada. O que nós presumimos é que este mestre destilador , o que fazemos com a fermentação e a destilação, e o número de garrafas que produzimos. Nós colocamos as garrafas maiores, em 100 garrafas por lote, e as menores em apenas 40 garrafas por lote. O que você faz que as pessoas se interessem no que estamos fazendo. As pessoas se impressionam pois nos preocupamos com cada detalhe e as pessoas apreciam e aprendem com isso. Por que isto está nesses detalhes da garrafa porque as pessoas colocam estes números, eles realmente fazem essa quantidade de mezcal porque cada uma tem um gosto diferente entre a industrial e a artesanal.

Felipe:

Sim, com certeza. Mas precisamos explorar mais esse ponto de comparação. As pessoas precisam prová-los lado a lado.

Erick:

O que eu faço é como quebrar pedras. Eu faço pequenas degustações na cidade do México. Eu venho para outros estados e até mesmo nos Estados Unidos. Mesmo se eu tiver 10, 12 ou 15 pessoas, com o tempo eu tenho 20-40 pessoas, e isso vai ficando ainda maior. O mercado do mezcal artesanal está ficando cada vez vez maior. E agora as pessoas sabem deste grupo, independente do bom mescal que você escolher, você vai ser surpreendido. E assim as pessoas vão entender que a cachaça industrial é muito ruim. Agora temos um Facebook com todas estas ferramentas surpreendentes para nos ajudar a espalhar essa mensagem. Temos 10 pessoas diferentes e todos os 10 escolheram isso, porque nós produzimos deste modo. Posso ajudá-lo em os EUA porque as pessoas gostam bons destilados, por que não ajudar uns aos outros? Na Venezuela, temos algo chamado Cucuy, que é um dos grandes exemplos. Apesar do nome Cucuy, esse destilado é realmente o mescal, agave destilada. Nesta comunidade eles trabalham como um grupo. Eles se reúnem e dizem que só vão produzir cachaça limpa, ou mescal limpo, para que as pessoas saibam que é o que um bom destilado.

Nate:

Acho interessante como muito tem sido feito para ajudar os produtores agrícolas a saber o que está acontecendo. Meu avô era um fazendeiro na parte central do Canadá. Uma coisa que ele sempre disse, foi que nas décadas de 20 e 30, grandes empresas tentavam comprar o seu produto abaixo do preço que ele poderia possivelmente vender. Então, os pequenos produtores se uniram e começaram a negociar contra os grandes compradores, e isso tornou as coisas mais fáceis para suas famílias. Mas você precisava de alguém para dizer que o que estava acontecendo, e como nós podemos lutar para mudar isso, e como podemos trabalhar em conjunto. Entretanto, as pessoas precisam ser capazes de trabalhar unidas, e isso é um pouco difícil.

Erick:

E agora temos o consumidor lá fora, que vem tentando consumir de maneira responsável. Agora eles consomem orgânicos, e as pessoas estão procurando mais por produtos artesanais. Portanto, estamos no caminho certo . Mais cedo ou mais tarde as pessoas saberão. Eu não sei se esse é o caminho para a cachaça, mas temos mescals que podem trazer uma experiência muito ruim (dores de cabeça/ “ressaca”). Eu adoraria ter o mescal real que eu não passasse mal. No meu caso, eu posso beber até um litro e meio de um bom mescal, e eu não vou passar mal! Eu não terei ressaca ou qualquer outra coisa, só preciso me manter hidratado. Não terei dor de cabeça ou não ficarei com a sensação de não poder fazer nada no dia seguinte. Esse é o verdadeiro mescal.

Nate:

Interessante! Acho que nosso tempo está terminando, mas, Felipe, gostaria que você fizesse alguns comentários sobre agave e Mayahuel.

Felipe:

Eu gosto da mitologia a respeito do mescal, e a deusa Mayahuel, também representa como o México pré-hispânico costumava beber pulque em rituais religiosos. Aqui usamos cachaça em rituais religiosos também. Recentemente eu fui a um ritual chamado Fecha Corpo. A cachaça é misturada com duas ervas, guine e arruda, e você bebe o líquido para proteger seu corpo e sua alma. Eu amo esses tipos de histórias. Existe algum ritual que as pessoas ainda estão fazendo com mescal?

Erick:

Exatamente a mesma coisa. Na verdade, as pessoas curam com suas almas com o mescal. É por isso que eu uso o nome mescal de alma. Tudo que você faz relacionado ao mescal é sobre a alma. É por isso que há algo profundo, que você sabe que está lá. Se alguém fica com medo, ou doente, o mescal é sempre usado, com as comunidades de Smalle. Eles respeitam muito esses mitos por trás mescal. Eles têm uma série de passos, na fermentação eles colocam uma pequena cruz. Porque mesmo eles têm coisas boas e ruins. E quando as pessoas vêm com más vibrações, nesta destilaria, elas não podem obter nenhuma gota de mescal. E ninguém pode explicar a razão, porque eles tem a fermentação perfeita, tudo é perfeito. E se alguém vem neste destilaria com inveja ou algo por trás. Algo que você não vê, mas as vibrações são negativas. Eles me escolheram para ajudar nesse local de produção em uma rara destilaria, escondida na floresta. Eles me escolheram como padrinho para trazer boas vibrações e também para trazer um bom suco. Eles me escolheram, porque sabem que eu trago uma boa vibração para esta destilaria. E depois eles me escolheram para um segundo ano, porque sabem que podem obter muito mais mescal. Boas vibrações são sempre bem-vindas. Mayahuel realmente existe e eu sou um intermediador de Mayahuel. Sou como um escravo dela. Eu não sei onde eu recebo a minha energia, eu tenho 39 anos de idade. Mesmo as pessoas me ajudando, eles perguntam o por que não me canso. Eu não sei por que eu faço isso, mas eu faço isso por uma razão. Um destilador me chamou para San Luis Potosi, e voltei com 55 litros de Mayahuel. Eu sou seu servo, mas eu tenho minhas compensações, eu conheci o meu México e sou bem vindos nele. Só para conhecer as pessoas por trás de cada cultura, eu pago o dobro ou triplo do meu tempo de trabalho. Recebo toda essa comida incrível, realmente humilde, e eles nem sequer consideram como simples ou natural. Com toda esta bela comida e as pessoas que você é pago da maneira mais justa para conhecer o México. Todos são bem-vindos, estamos muito animados que as pessoas saibam mais sobre o que essas comunidades fazem. Quando volto para a cidade, e eu vivo em uma das maiores cidades do mundo, todos estão trabalhando e não têm sentido para a vida. É por isso que eu tenho a minha fundação, eu recolho em Dezembro um monte de coisas como: cobertores, brinquedos e alimentos, e eu dou todo o meu tempo para isso. Precisamos ser capazes nesta vida de não viver apenas em razão de ter mais dinheiro, ou ter mais filhos, ou uma casa maior, ou um carro maior. Precisamos ser capazes de entender que não faz sentido se você não fizer algo para a alma. Um novo carro não vai encher a sua alma.

Felipe:

Estou totalmente de acordo. Você faz um trabalho incrível.

Erick:

Obrigado. Você também. Foi ótimo compartilhar nossas experiências. A nossa experiência com destilados é semelhante, provavelmente algo que posso ajudá-los. Para ser capaz de mostrar o que você faz por imagens, estamos aqui, apenas para compartilhar um outro lugar onde fazemos belos destilados.

Felipe:

Estou aprendendo muito com você e em como podemos seguir seus passos, e também trocar algumas informações. Eu sei que você é um fã de mescal, mas mais ainda de destilados produzidas com a alma, e isso é algo que temos em comum entre cachaça e mescal. Meu objetivo é compartilhar mais da nossa alma brasileira, com um copo de cachaça e uma boa história. Seria incrível se você pudesse vir ao Brasil e visitar um alambique, e também se eu pudesse visitar o México.

Erick:

Você é mais do que bem-vindo. Todos são bem-vindos aqui.

Nate:

Bom pessoal, chegamos no final. Muito obrigado pelo seu tempo, sabedoria, comentários com alma, e discernimento. Fico feliz que todos nós tivemos a oportunidade de nos conectar e apreciar essa conversa.

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