7 misturas brasileiras com cachaça - e um bônus exótico

  • Publicado 3 anos atrás

Nós, brasileiros, adoramos infusões: pimenta no azeite, cânfora no álcool, e claro, cachaça curtida com um monte de coisa boa – e outras inusitadas. Quais suas infusões com cachaças prediletas? Selecionamos para esse artigo algumas misturas brasileiras

As infusões e misturas brasileiras não são novidade. Quem nunca teve um machucado tratado com álcool e arnica, ou provou de uma bela pimenta no azeite, vinagre ou mesmo na cachaça?

O processo de mergulhar um ingrediente na cachaça é uma forma de trazer para os destilados as propriedades sensoriais de sementes, cascas de árvores, flores, folhas, especiarias e frutos. Por exemplo, pelo país são famosas as misturas de cachaça com cravo, canela, carqueja e tantos outros ingredientes.

E por sermos tão curtidos na cachaça como uma bela infusão brasileira, separamos 7 das misturas brasileiras mais famosas, além de acrescentar um bônus um tanto quanto bizarro no final. Confira:

1. Cachaça de Jambu

Jambu, também conhecida como agrião-do-pará é uma erva típica da região norte do Brasil, muito utilizado nas culinárias paraense, amazonense, rondoniense e acriana, podendo ser encontrado em iguarias como o tacacá, o pato no tucupi e até mesmo em pizza combinado com mozarela. Um dos efeitos mais interessantes da erva é a capacidade de anestesiar os lábios e a língua, tornando a experiência gastronômica algo especial. A medida que você mastiga as folhas, dependendo do grau de cozimento da mesma (quanto mais crua, mais intenso o efeito), começa a sentir o efeito de dormência e formigamento da boca. Basta um gole pra sensação de dormência tomar conta dos lábios, língua e céu da boca. Ao mesmo tempo vem um quê de salgado e frescor.

2. Cataia, a cachaça caiçara

Cataia é uma bebida originada da mistura de cachaça com folhas da cataia, uma planta rica em eugenol, uma substância antisséptica e anestésica muito usada na fabricação de pastas de dente, mas com diversas outras aplicações populares – até mesmo impotência sexual. A bebida é muito popular no norte do litoral paranaense e sul de São Paulo. Dizem que a bebida se originou em 1985, quando Rubens Muniz, dono de pousada e restaurante na Barra do Ararapira, uma pequena comunidade de pescadores próxima à Ilha do Cardoso (SP), teve a ideia de misturar cataia e cachaça na mesma garrafa. Depois de pronta tem teor alcoólico variando entre 20% e 40% e sua infusão na cachaça é capaz de transformar a pinga em um líquido de cor amarelada e gosto muito agradável. Leia mais sobre esta infusão com cachaça aqui.

3. Consertada, a bebida que une café e cachaça

No interior de Santa Catarina, na cidade de Bombinhas, uma nova tradição surgiu. Chamada Consertada, é uma bebida alcoólica um tanto inusitada. Nela, o café ganha mais sabor com a adição de especiarias (gengibre, canela, cravo e erva doce), açúcar e uma boa dose de cachaça. A cultura da Consertada é tão séria que, em 23 de maio de 2013, a então prefeita de Bombinhas declarou, por meio de uma lei, que a bebida era patrimônio cultural do município. À medida que enaltecia os costumes da cidade, também resguardava a receita original do drink. Leia mais sobre a consertada.

4. Virga, Gim Seco do Brasil

Virga é o primeiro gim artesanal produzido no Brasil. Além de ser pioneiro na categoria dos destilados de zimbro, os produtores de Virga também o denominam como o “gim mais brasileiro do mundo”. Uma das motivações para esse título está no fato de Virga ser também o primeiro gim do mundo a levar um blend de cachaça de alambique – algo em torno de 15% da composição total do gim. Dessa forma, a bebida é carregada de aromas dos botânicos, em especial o pacová (planta brasileira conhecida como cardamomo brasileiro) e também possui uma base alcoólica aromática vinda da caninha.

5. Azuladinha de Paraty

cachaças Maria Izabel

Com mais de um século de história, a Azuladinha de Paraty é uma cachaça destilada com folhas de tangerina – fazendo com que a aguardente ganhe uma cor azulada contra a luz. Segundo o livro Cachaça, Prazer Brasileiro, de Marcelo Câmara, a primeira versão da Azuladinha – que hoje só existe em coleções e acervos de degustadores – ganhou, em 1908, a Medalha de Ouro da Exposição Nacional do mesmo ano. Atualmente, versões da bebida são produzidas por engenhos de Paraty, como o Engenho D’Ouro, e sua história faz parte da tradição cachaceira da cidade. A bebida tem tamanha importância histórica que está enquadrada com a Indicação Geográfica de Paraty concedida pelo INPI.

Cada produtor de Paraty tem sua própria receita. A Maria Izabel diz usar flores e folhas da tangerina. Já a Azuladinha da Coqueiro foi a primeira formalizada da cidade e, além de carregar as características cítricas da planta, tem também com base aquele aroma e sabor típico da cachaça paratiana.

6. Pituconha, cachaça com maconha

Pituconha

“Aguardente de cana adoçada com raiz de maconha”, é o que diz no rótulo, complementada por “O Ministério do Transporte adverte: o perigo não é um jumento na estrada. O perigo é um burro no volante”. A Pituconha, famosa infusão do “polígono da maconha”, região pernambucana famosa pela produção da erva em áreas irrigadas pelo rio São Francisco, ficou famosa em meados de 2014, apesar de existir há muito mais tempo. Sobre sua ilegalidade, a Polícia Federal afirma que não existe uma resposta. Segundo uma perícia realizada pela PF,  a concentração de THC (tetrahidrocanabinol), o princípio ativo da maconha, nas raízes da planta, é muito baixo. Em entrevista à Folha de S. Paulo, Carlo Correia, chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal em Pernambuco, falou que “se você for levar ao pé da letra, seria crime [a comercialização da raiz e, consequentemente, da bebida] porque tem o princípio ativo. Só que a concentração é baixíssima. É uma questão que ainda não se tem uma posição definida”. Nunca provamos da iguaria, mas alguns repórteres provaram e disseram que a bebida não dá barato.

7. Fecha Corpo, Semana Santa no interior de São Paulo: infusão de cachaça com arruda e guiné

Em Monte Alegre do Sul, pequena a 130 km de São Paulo, toda Sexta-Feira Santa centenas de visitantes aproveitam o feriado religioso para participar do ritual de beber o Fecha Corpo. A receita é uma mistura de cachaça curtida em guiné e arruda colhidos na noite anterior ao preparo. A simpatia consiste em ingerir, em jejum, esse preparado para garantir proteção contra mau-olhado, inveja e doenças do corpo e da alma por pelo menos um ano.

fecha corpo felipe jannuzzi

Bônus: Infusões com Cachaça com cobras, escorpiões e muito mais

Há quem diga que o costume de curtir bebidas alcoólicas com animais peçonhentos venha da Ásia. Lá, cobras venenosas e outros animais são adicionados a potes e garrafas com um vinho feito de arroz, e acredita-se que essa infusão possua efeitos medicinais – serve desde para queda de cabelo a disfunções sexuais. Mas, nesse Brasilzão enorme também é possível encontrar essa mistura esquisita, só que com cachaça – e, é claro, com várias aplicações curativas e afrodisíacas. A crença é que o álcool absorva a energia e o veneno desses animais, e que isso seja passado a quem o bebe.

Cobras na cachaça

Em uma matéria do G1, o médico e toxicologista Daniel Rebouças, diretor do Centro Antiveneno da Bahia (Ciave), afirma que as pessoas que consomem bebidas à base dos animais citados não correm risco de envenenamento, pois o álcool quebra as proteínas do veneno e o neutraliza. Entretanto, podem ser acometidos de infecção gastrointestinal. “O álcool neutraliza [o veneno], mas o animal pode estar apodrecido e transmitir alguma contaminação”, completa.

E você, já experimentou algumas dessas iguarias? Conte-nos sua experiência nos comentários!

Coleções

Uma seleção dos melhores artigos do Mapa da Cachaça em diferentes tópicos

Produção de cachaça

30 artigos

Envelhecimento de cachaça

15 artigos

História da cachaça

12 artigos

Como degustar cachaça

18 artigos

Coquetéis clássicos

14 artigos

Cachaça e Saúde

7 artigos

O melhor da cachaça no seu e-mail

Assine o Mapa da Cachaça

loading...