4 fatos sobre bebidas alcoólicas e o Coronavirus

  • Publicado 4 anos atrás

Mito ou verdade? Nesse momento de incerteza, separamos quatro fatos sobre cachaça e Coronavirus

A medida que o coronavirus, doença mais temida dos últimos anos avança, fazendo novas vítimas, a procura por soluções tem levado uma enxurrada de pessoas em busca de informação. Algumas resultam em exemplos de solidariedade, como a produção de álcool em gel a partir dos rejeitos da destilação para serem doados.

Só que, nem sempre a informação recebida é confiável. Em tempo de pandemia, difícil saber o que se espalha mais rápido: Covid-19 ou fake news? Dependendo do tipo de notícia replicado, o leitor é induzido ao erro. Por isso, preparamos uma lista com 4 fatos para você se proteger do coronavirus, quando o assunto tiver relação com uma das maiores paixões do brasileiro. 

1. Brindar é perigoso?

A princípio, o ato de encostar um copo no outro não leva à contaminação. O que é perigoso é compartilhar copos e outros objetos. Quando uma pessoa bebe no copo da outra, além de ter contato com a saliva alheia, ainda deixa a própria no objeto. Isso aumenta as chances de alguém contrair o coronavirus. 

Mesmo que essas pessoas não tenham a Covid-19, elas podem ter tocado em lugares contaminados e, ao segurar o copo, transferem o vírus para o vidro facilitando a disseminação da doença. Pesquisa científicas mostraram que o Coronavírus tem capacidade de permanecer inativo em algumas superfícies por até 14 horas, a procura de um organismo vivo para se proliferar. 

2. Cachaça substitui o álcool em gel?

Apesar de produzidos a partir de processos semelhantes cachaça e álcool em gel são muito diferentes. Para ser comercializada no Brasil, a cachaça precisa ter concentração alcoólica de no máximo 48%. O que não é suficiente para matar germes.

A engenheira química Luisa Fernanda Rios Pinto, da Universidade Estadual de Campinas, alerta ainda que a cachaça muitas vezes tem açúcares, adicionados no processo ou provenientes da fermentação, que podem contaminar ainda mais o ambiente, ao atrair bactérias. Por isso, cachaça é só para beber.

Na hora da limpeza, a orientação é usar produtos que tenham concentração de álcool superior a 60%. Para as mãos, o mais indicado é água e sabão. A mistura quebra a capa de gordura que recobre o vírus, eliminando a ameaça. Como o álcool age diferente, só deve ser usado nas mãos, quando a outra opção não for possível.

Nos Estados Unidos, a KPTV, afiliada da Fox, no Oregon noticiou que um produtor de uísque, de Portland, teve autorização para fazer o próprio álcool em gel. Ele tem distribuído os frascos gratuitamente aos clientes. O produto tem como base o líquido que sai no início da destilação. E, antes era descartado por ter concentração alcoólica muito alta (cerca de 80%). No Brasil, a Ambev também anunciou a produção de álcool em gel para doar a hospitais públicos.

2.1. Produtor de cachaça pode produzir álcool gel?

Sim e não. Os produtores de cachaça podem produzir álcool gel para consumo próprio, mas não são autorizados a industrializar o produto.

Uma parte da produção da cachaça é descartada e pode ser usada para produção de álcool combustível e outros produtos como álcool gel. Durante a destilação em alambiques de cobre, a parcela chamada de cabeça e cauda são descartadas e podem ser usadas para tais fins, como aponta o produtor Vicente Lemos:

Desde 2015, eu produzo álcool gel com redestilando em coluna de inox uma parte da minha produção. Eu uso a cabeça, cauda e também uma parcela da minha cachaça que não passam do meu controle de qualidade, com acidez acima do previsto. Essas partes são retificadas em uma coluna de inox é vira combustível. Depois de diluído, uma parte é usada para higienização da minha indústria e para produção de álcool gel para consumo próprio, seguindo receita do meu pai que era farmacêutico.

Vicente Lemos, produtor da cachaça Volúpia.

No entanto, os produtores de cachaça e outras bebidas não estão autorizados pela Anvisa a produzir álcool gel e comercializa-lo. Durante a crise do coronavirus, farmácias de manipulação foram autorizadas a fabricação, mas não os produtores de bebidas alcoólicas, como alerta Carlos Moura da Anvisa.

A autorização da Anvisa é para que empresas de medicamentos, saneantes e cosméticos já regularizadas possam fabricar e vender o álcool líquido e o álcool gel.

Estes são produtos que dependem de autorização e análise prévia da Anvisa para estarem no mercado. Com a situação extraordinária do Covid-19 fizemos a liberação e autorização prévia para estas indústrias, pois são empresas.

Esta produção pode ser comercializada e a orientação para os consumidores é que só adquiram estes produtos no mercado formal.

A medida não se aplica a produtores de bebidas alcoólicas.

Uma outra notícia é que a Anvisa autorizou a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) a doar a produção de álcool de limpeza de superfície para municípios e serviços de saúde, para uso como desinfetante ambiental.

A UNICA também poderá doar essa produção para as industrias que listamos acimas produzirem o produto final para uso do consumidor.

Carlos Moura – Imprensa – Anvisa

3. Quem bebe cachaça com limão e mel não adoece?

Mito! Incluir na alimentação produtos cítricos como limão, laranja e morangos aumenta a imunidade. Isso ajuda o corpo a combater os invasores quando um vírus se instala, amenizando os efeitos da doença. Ter uma boa alimentação é essencial para ter saúde. 

Mas, os alimentos e bebidas não são um escudo contra infecções. Embora existam estudos que relacionem o consumo moderado de bebidas alcoólicas com benefícios para a saúde, não há comprovação de que fermentados e destilados criem uma barreira contra a Covid-19. 

Uma das notícias que circulam pela redes cita a entrevista de um britânico que afirmou ter se curado da doença com uísque e mel. O Ministério da Saúde advertiu que a notícia é falsa. E pediu para que não fosse compartilhada. “Até o momento, não há nenhum medicamento específico, infusão, óleo essencial ou vacina que possa prevenir a infecção pelo coronavírus”, informa a nota.

veja outros mitos e verdades sobre o consumo de bebidas alcoólicas

4. Beber me torna mais suscetível ao vírus?

Beber moderadamente não é prejudicial a saúde. E, segundo  Plínio Trabasso, médico infectologista do Hospital de Clínicas da Unicamp, consumir bebidas alcoólicas não aumenta as chances de contrair o vírus.  A infecção se dá quando a pessoa tem contato com secreções de um paciente infectado. 

Já o consumo excessivo de álcool é um problema, pois debilita o corpo. E, no caso de uma infecção, as reações ao vírus podem ser mais graves. O abuso do álcool agride e mata as células do fígado. O corpo tenta neutralizar a ameaça, produzindo várias substâncias para conter o “elemento estranho”, assim como faria com um vírus. 

Ao longo dos anos, essas células mortas são substituídas. As lesões no fígado geram a fibrose, um dos estágios da cicatrização recorrente. No fim, a pessoa pode ter uma cirrose hepática, que atrapalha o funcionamento do órgão. Quem tem doenças hepáticas e crônicas é considerado grupo de risco para o Coronavírus e não deve beber.

Como funciona o vírus do Coronavirus?

O que fazer para se previnir?

Passamos por um momento excepcional, não deixe de se cuidar e cuidar do próximo. Tenha calma e siga as recomendações:

O cuidado individual é fundamental, independente da sua idade e condição de saúde. Busque um hospital mais próximo somente se estiver com febre alta ou sentir falta de ar. Evite sair de casa!

Se precisar sair de casa, use máscara, busque sempre lavar as mãos, evite aglomerações. Para mais recomendações sugerimos o site do SUS: https://www.unasus.gov.br/especial/covid19


Fontes: 

Luisa Fernanda Rios Pinto é doutora em engenharia química e administradora na plataforma Blogs de Ciência da Unicamp.

Plínio Trabasso é médico infectologista e vice-superintendente do Hospital de Clínicas da Unicamp.

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