Menos jambu e mais Caipirinha para a valorização da coquetelaria nacional

  • Publicado 5 anos atrás

Afinal do que adianta falarmos de jambu, priprioca e catuaba se não conseguimos nem defender a receita original da Caipirinha?

O recente aumento de bares especializados em coquetéis nas principais capitais brasileiras pode nos fazer pensar que nossa história com coquetelaria seja recente. Mas somos um país com tradição em misturar frutas, sementes, raízes, ervas com fermentados e destilados. Dizem que Carlota Joaquina, mulher de D. João VI, adorava misturar frutas com aguardente de cana.

É comum encontramos pelo país receitas de garrafadas, curtidas ou misturas preparadas para lazer, remédio ou até para rituais religiosos. Toda Páscoa, no interior de São Paulo, por exemplo, centenas de pessoas participam do ritual do “Fecha Corpo”, quando tomam cachaça com guiné e arruda para espantar os males do corpo e da alma. Em mercados municipais e botecos pé sujo, e atualmente em bares sofisticados, encontramos cachaça com cataia, jambu, carqueja, puxuri, priprioca que nos revelam histórias e sabores. Parte do processo de valorização de uma possível coquetelaria nacional é reconhecer o potencial desses ingredientes.

Recentemente, a catuaba foi a grande estrela dos nossos carnavais pelo seu preço barato e discurso afrodisíaco. A onda agora é a da “cachaça de jambu” e seu efeito de formigamento na boca. Minhas apostas para os próximos anos estão nas nossas cascas e raízes amargas para receitas nacionais de vermutes e bitters. Acho tudo isso fantástico, mas na minha opinião, se quisermos que nossa coquetelaria evolua, precisamos falar de um coquetel clássico que vem sendo menosprezado, a Caipirinha.

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Coquetel feito com jambu

Protegida por um decreto de 2009 como autentica receita brasileira e incluída pela Associação Internacional de Bartender entre os 7 clássicos da coquetelaria mundial, a Caipirinha é um coquetel refrescante, delicioso e memorável, ainda mais quando preparada com uma boa cachaça. Apesar disso, outras bebidas aproveitam da sua fama para deturparem a receita original e substituem a cachaça por um destilado tido como superior – puro preconceito replicado pelo mercado, bartenders e consumidores num ciclo vicioso.

Um recente dado divulgado pela marca de cachaça Leblon, aponta que 6 a cada 10 Caipirinhas não são feitas com cachaça. Quando te oferecem uma Caipirinha feita de vodca, saquê ou rum, e isso já deve ter acontecido com vocês diversas vezes, estamos deixando de reconhecer a cachaça como patrimônio nacional centenário e uma das bandeiras da nossa coquetelaria.

Para começarmos a falar sobre uma coquetelaria nacional o primeiro passo é começarmos a defender nossa cultura, nossas receitas tradicionais e nossos ingredientes com séculos de história. Começar o movimento de valorização da coquetelaria brasileira pode ser tão simples quanto misturar cachaça, limão, gelo e açúcar.

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